Nada como o dia seguinte a uma eleição. "Inimigos" restabelecem
relações, medidas represadas durante a campanha para não prejudicar
correligionários são adotadas e aquilo que era "urgente" para o
candidato vira "assim que possível" para o eleito. É a política no
seu momento de liquefação.
Há anos a Prefeitura de São Paulo reclama que é necessário renegociar a
dívida da cidade, "impagável", segundo a expressão de Kassab. Pois
foi só Haddad ganhar a eleição que o governo federal encheu o peito para
anunciar que aceitou modificar o seu indexador. Por que só agora Dilma resolveu
se mexer?
A mesma pergunta vale para Alckmin. Até outro dia, seu governo dizia que a
estratégia de combate à violência era a correta e que havia muita lenda em
torno do PCC. Acabada a disputa, horas depois, resolveu assumir que a cidade
vive um momento de "maior estresse" e mandou 600 policiais ocuparem
uma das principais favelas de São Paulo, reduto da facção criminosa, de onde
teriam partido ordens para matar PMs. Por que ele demorou tanto para agir?
Kassab foi outro que deu uma bela aula de esperteza política. Não esperou
nem um dia Serra esfriar e já pulou para o barco do PT. Apesar de ter sido
duramente atacado por Haddad nos últimos meses, não hesitou em declarar que vai
dar apoio "incondicional" ao sucessor. Incondicional?
O próprio Haddad não escapou da síndrome do dia seguinte, quando as verdades
começam a pipocar. O petista, que chegou a anunciar em março que o PT iniciaria
uma mobilização para acabar o quanto antes com a taxa de inspeção veicular,
disse, na segunda-feira, que depende da compreensão dos vereadores e que a
medida pode ficar para o segundo ano de governo. Segundo ano?
Mas se a taxa era tão injusta e desnecessária como ele dizia na campanha,
por que o eleito não pede para Kassab mandar hoje mesmo um projeto à Câmara
propondo seu fim? Afinal, o apoio é incondicional, não é?
Fonte: Folha de S. Paulo
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