BRASÍLIA - Passadas as eleições municipais, surge mais um potencial foco de
atrito entre a presidente Dilma Rousseff e o governador de Pernambuco e
presidente do PSB, Eduardo Campos. Trata-se da candidatura do deputado Júlio
Delgado (PSB-MG) a presidente da Câmara, um lance capaz de interferir na
chancela que a presidente Dilma Rousseff deu ao acordo PT-PMDB para assegurar
aos pemedebistas o comando das duas Casas do Congresso.
A presidente já se deu conta da intensa movimentação de Delgado e ontem à
tarde telefonou ao vice-presidente Michel Temer para dizer que o assunto deve
ser discutido na reunião entre os dois, marcada para a próxima semana. Após falar
com Temer, a presidente também deve conversar com Eduardo Campos, segundo a
direção do PSB. Possivelmente também na semana que vem.
"Esse acordo foi feito entre os dois partidos [PT e PMDB]. Não incluiu
os outros", afirma Delgado, referindo-se às siglas governistas. "Eu
diria que tem um campo fértil pela frente."
O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, disse ontem ao Valor que ainda não
há uma decisão oficial da Executiva do partido sobre a candidatura de Júlio
Delgado. O deputado, no entanto, afirma que recebeu o incentivo dos principais
líderes partidários - inclusive Campos - para articular sua candidatura.
Delgado pode receber o apoio do PSD, criado depois do acordo firmado entre PT e
PSB, que não se sente compromissado com a candidatura do líder do PMDB na
Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O PSDB, especialmente o grupo ligado ao
senador Aécio Neves (MG), acompanha com interesse a movimentação capaz de
dividir a base governista.
Durante a campanha eleitoral, Dilma deu seu aval ao acordo ao vice Michel
Temer. Sobre o Senado, a presidente achava mais prudente o líder da bancada,
Renan Calheiros (AL), concorrer ao governo de Alagoas. Mas foi informada que a
opção da bancada era por Renan e não opôs restrição. O PMDB, segundo a cúpula
do partido, considera um virtual rompimento se esse acordo não for cumprido.
Além de Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão, também tem insistido que a
desconfiança do PMDB não tem procedência. Lembrando que o compromisso do
governo é com o PMDB, a orientação do Palácio do Planalto ao PT é que o partido
mantenha-se fiel ao acordo.
Delgado, atual quarto secretário da Câmara, deu início a uma intensa
articulação para viabilizar a sua candidatura à presidente da Casa. Nas
conversas com colegas, tem recebido apoios inclusive de deputados da base
aliada e de setores do PT insatisfeitos com a possibilidade de o PMDB assumir o
comando da Câmara e do Senado a partir do ano que vem.
Na cúpula do PSB, a intenção é evitar que uma eventual derrota de Delgado
seja debitada na conta de Campos, que tem colecionado vitórias políticas nos
últimos tempos. Depois de conseguir eleger sua mãe para uma vaga no Tribunal de
Contas da União, o governador colheu resultados positivos nas eleições
municipais.
A eleição para a presidência da Câmara é vista por integrantes da cúpula do
PSB como uma chance de reforçar a posição do partido na base governista ou um
ponto de inflexão que impulsione uma aproximação entre a legenda e a oposição.
Se Delgado vencer a disputa em fevereiro, o partido teria maior força para
pleitear a indicação de Campos para a vaga de vice de Dilma na eleição
presidencial de 2014. O projeto de candidatura de Eduardo Campos à Presidência
estaria automaticamente postergado e a parceria PT-PMDB, abalada. Por outro
lado, uma operação ostensiva do Palácio do Planalto para boicotar a candidatura
de Delgado poderia ser usada como justificativa para um rompimento entre o PSB
e o projeto de reeleição de Dilma.
Fonte: Valor Econômico
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