"PSDB precisa
de discurso convincente"
Após defender renovação do partido, FHC agora diz que ideias novas são mais
importantes que troca de gerações na legenda
Gabriel Manzano
O PSDB precisa, daqui por diante, de "um discurso convincente, afim com
os problemas atuais do País". Mas esse novo discurso não significa que o
partido deva necessariamente sair à cata de nomes novos. "Juventude, em
si, não produz ideias novas", adverte. "O mais importante são as
ideias, não necessariamente novas mas renovadas para fazer frente às
conjunturas".
É com essas palavras que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso define os
horizontes do tucanato depois das eleições de domingo, em que o partido teve
vitórias a festejar mas amargou uma derrota na batalha mais importante, a da
Prefeitura de São Paulo.
A entrevista do ex-presidente ao Estado se segue às declarações do candidato
derrotado José Serra, segundo o qual falar em mudanças no PSDB seria um modo de
se submeter à estratégia do PT. Antes dessa fala de Serra, FHC havia dito que o
momento "é de mudança de gerações", mas "isso não quer dizer que
os antigos líderes vão desaparecer, eles têm de empurrar os novos para a
frente".
Nesta entrevista, FHC discorda de várias análises feitas sobre o futuro do
partido. Uma delas é que o PSDB paga o preço por ser uma sigla muito
"paulista". Outra, detecta domínios regionais ou eleitorados cativos.
"O eleitor mostrou que não tem donos", advertiu o ex-presidente.
Há um nascente debate, dentro e fora do tucanato, sobre as perspectivas do
PSDB depois das eleições de domingo. O que é prioritário no momento? Nomes
novos ou um discurso novo?
O mais importante é um discurso convincente, afim com os problemas atuais do
País e do povo e transmitido com linguagem simples e moderna. Claro que sempre
é necessário abrir as portas da carreira política aos mais jovens. Mas juventude,
em si, não produz ideias novas e o importante são ideias, não necessariamente
novas, mas renovadas para fazer frente às conjunturas.
O PSDB paga o preço hoje por não ter reagido em outros tempos, quando o PT
"roubou" sua mensagem?
Sem dúvida o PSDB poderia ter sido mais enérgico na defesa do que fez e em
desmascarar a apropriação indébita e a propaganda enganosa. Mas águas passadas
não movem moinhos.
Uma das críticas ao partido, partida de tucanos não paulistas, é que o PSDB
teria se concentrado demais em São Paulo. Foi um erro? Como sair dessa
situação?
O partido nunca esteve concentrado apenas em São Paulo. Não se esqueça de
que ele governa também Minas e o Paraná, além de Goiás, Alagoas, Tocantins e
Roraima. E agora ganhou nas principais capitais do Norte, Belém e Manaus, e em
algumas do Nordeste. A noção de que se trata de um partido "paulista"
é irmã gêmea da outra, de que ele é um partido que defende "os
ricos". Estigmas plantados por adversários, que se repetem como se fossem
verdades.
O que o eleitor ensinou aos políticos nestas eleições?
O eleitor mostrou que não tem "donos". Votou contra Lula no
Amazonas, no Recife, em Campinas, etc., assim como derrotou os tucanos em São
Paulo. O eleitorado reage às mensagens e aos candidatos que lhe são propostos,
dando pouca atenção aos padrinhos - e mesmo aos partidos. Naturalmente tanto
estes como aqueles têm certo peso, mas convém não exagerar.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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