Chico de Gois
BRASÍLIA - A base governista no Congresso derrotou a oposição e conseguiu
estender a CPI do Cachoeira por apenas 48 dias, ou até 22 de dezembro, quando começa
o recesso. A oposição desejava prolongar os trabalhos por 180 dias. Os
governistas obtiveram assinatura de 223 deputados e 34 senadores - o mínimo era
171 na Câmara e 27 no Senado. Na prática, não haverá mais investigação. O
relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), disse que pretende
apresentar seu relatório dia 20 de novembro. O prazo inicial de encerramento da
comissão seria no próximo domingo, dia 4.
Antes da definição do tempo de prorrogação, a CPI derrubou a preferência de
votação de requerimentos que pediam a quebra de sigilos bancários de empresas
consideradas fantasmas do esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira -
supostamente abastecidas pela Construtora Delta -, provocando a indignação da
oposição.
- Enterraram a CPI. Não querem mais investigar nada - disse o deputado
Vanderlei Macris (PSDB-SP).
Bate-boca em torno de Cabral
A discussão na sessão administrativa de ontem foi tensa. O deputado Rubens
Bueno (PPS-PR), líder de seu partido na Câmara, insistiu na convocação do
governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), já rejeitada em sessão
anterior, para analisar os contratos do estado com a Delta.
- Quando foi negada a convocação do governador Sérgio Cabral, para mim ele
passou a ser o principal suspeito da construtora Delta. O Cabral foi blindado -
afirmou Bueno, provocando uma discussão com o deputado Leonardo Picciani
(PMDB-RJ), que saiu em defesa de Cabral.
- Considerei uma leviandade a fala do deputado Rubens Bueno - retrucou
Picciani, dedo em riste, gritando com o colega para que ele se calasse: - O
governador não foi convocado porque nas milhares de interceptações telefônicas
não há nenhuma citação ao nome dele. O que existe é uma relação pessoal do
governador com o Fernando Cavendish (ex-dono da Delta).
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) também disse que a prorrogação da CPI por
48 dias significaria um presente para o ex-proprietário da Delta, e que a
população saberá quem são os parlamentares que estão interessados em
protegê-lo.
- Quarenta e oito dias é o tempo da farsa porque ninguém vai investigar mais
nada - declarou o deputado.
De acordo com Lorenzoni, esses parlamentares vão brindar o Natal em Paris
com o empresário - uma referência aos encontros de Cavendish com Cabral na
capital francesa e à famosa foto em que o empresário e secretários do governo
do Rio aparecem dançando com guardanapos amarrados à cabeça em um restaurante
de Paris
- O deputado Picciani é do grupo que blinda a Delta - acusou o deputado do
DEM.
- Quero lamentar profundamente o desrespeito do deputado Onyx. Não nos
prestamos a blindar quem quer que seja - retrucou Picciani.
Com a prorrogação dos trabalhos só até o fim do ano, e a apresentação do
relatório final dia 20 de novembro, a CPI deve ignorar as dezenas de
requerimentos de convocação e de quebra de sigilos que aguardam votação. O
relator ainda faz mistérios sobre seu parecer final.
Ainda não está certo se o presidente do Congresso, senador José Sarney
(PMDB-AP), irá ler o requerimento de prorrogação hoje ou na semana que vem.
Porém, isso não afetará o adiamento do final porque, conforme o senador Pedro
Taques (PDT-MT), que queria uma dilatação do prazo final por mais 180 dias, é
apenas uma questão de publicidade do ato.
Fonte: O Globo
Um comentário:
Também acho que o Sérgio Cabral só deveria ser convocado se fosse provado algo contra ele. Tem que ter um motivo mais consistente do que a relação pessoal dele, que não interfere na administração e nem mostrou nada de errado.
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