"Eu farei o meu papel. A eternização do PT no poder não fará bem à
democracia." Qual papel? O de candidato a presidente da República? O
senador Aécio Neves tangencia a pergunta e a palavra candidato: "O papel
que o partido me delegar. Mas, a partir de agora, estarei trabalhando pela
renovação do PSDB, pela mudança de sua fisionomia, a atualização de seu
discurso, o resgate de seu papel na democratização e na modernização do
Brasil", diz o senador, agora falando (quase) como presidenciável.
Entre abril e maio, diz Aécio, o PSDB fará um grande evento nacional, por
ocasião de sua convenção, que elegerá a nova direção nacional. "Vamos
apresentar um projeto alternativo para o Brasil, revelando caras novas para sua
implantação e apontando as deficiências do atual governo. Há espaço para o PSDB
e vamos entrar em campo com muita disposição para conquistá-lo." O
discurso pró-renovação não parece comportar a proposta da eleição de José Serra
para a presidência do partido. Mas ele mesmo evita o assunto, dizendo ter
lamentado muito a derrota tucana em São Paulo, porque ela proporcionou ao PT
uma parte do fôlego perdido com o mensalão.
Os efeitos das eleições municipais, diz Aécio, são importantes durante um
período, mas logo se dissipam, porque outros fatores passam a pesar no
tabuleiro nacional. "Para nós, duas coisas foram importantes. Primeiro, o
PDSB foi confirmado como contrapolo de poder no Brasil. Depois, conquistamos
posições importantes no Norte e no Nordeste, de onde havíamos praticamente
desaparecido. Mais que nossas vitórias ali, as derrotas do PT têm um
significado importante. Elas indicam que o messianismo de Lula está se
volatizando e que os benefícios dados à região, como o Bolsa-Família, já estão
eleitoralmente precificados". Vale dizer, o retorno em forma de votos já
foi colhido em eleições passadas.
Some-se a esses resultados, prossegue ele, o fato de que o PSDB, já dispondo
de uma base estável, ainda que não majoritária, na Região Sul, continua sendo a
maior força partidária no Sudeste. "Isso não pode ser subestimado numa
disputa presidencial. O PT conquistou a prefeitura da capital paulista, mas o
PSDB continua tendo os governos de Minas e de São Paulo. Nossa vitória em todo
o estado de Minas foi muito expressiva. O Rio ainda é algo indefinido, com a
prefeitura e o governo estadual nas mãos do PMDB. Vamos investir muito em nossa
relação com o Rio, com a população e os setores que formam opinião, na cultura,
nas artes e no mundo acadêmico", diz Aécio.
Dilma será um páreo duro? "Ela tem quase 80% de popularidade, mas
perdeu em quatro das cinco capitais nas quais esteve fazendo campanha. Ela foi
a São Paulo, Salvador, Manaus, Belo Horizonte e Campinas. Perdeu em todas,
exceto em São Paulo, onde o cabo eleitoral decisivo não foi ela."
Nem é preciso perguntar sobre alianças, especialmente com o PSB de Eduardo
Campos, hipótese que tem rendido tanta especulação. "Estamos numa situação
confortável porque somos oposição. Nessa condição, não enfrentamos dilemas,
como o de ficar ou sair do governo, buscar uma vice ou lançar candidato
próprio. O PSB hoje é um partido da base governista. Devemos respeitar isso.
Quem tem que se preocupar com a hipótese de o partido lançar candidato próprio
é a presidente, é o governo. Agora, se em algum momento eles (o PSB) quiserem
se juntar a nós para oferecermos um projeto alternativo ao Brasil, serão
bem-vindos. De alianças vamos tratar no momento certo", diz ainda Aécio.
Ou seja, quando o candidato, que só pode ser ele, vier a ser lançado.
Aécio teve na segunda-feira uma conversa de cinco horas com o ex-presidente
Fernando Henrique, que, segundo o senador, tem sido um forte inspirador da
renovação partidária e deve ter papel mais ativo no processo, como presidente
de honra do PSDB. Não disse, mas está implícito: FH será uma espécie de patrono
de sua candidatura na arena paulista. Esse é o tom quase presidenciável adotado
por Aécio depois das eleições.
Julgamento. Do ex-deputado José
Genoino, aguardando a fixação de sua pena pelo STF: "Na democracia,
condenações do STF devem ser cumpridas. Nunca dissemos o contrário. Mas isso
não suprime o direito de questioná-las, de lutar até o fim pela demonstração de
inocência. Para isso, existem os recursos e outros instrumentos
jurídicos." O PT reunirá a Executiva hoje, mas não abordará o assunto.
Ficará nos louros da eleição municipal.
Fonte: Correio Braziliense
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