“Em
vista dos acontecimentos recentes, com a bisonha reação de setores
(majoritários?) do petismo às decisões do Supremo Tribunal Federal na Ação
Penal 470, cabe deduzir, com algum grau de desalento, que há de ser molecular e
como que conduzido pelos fatos - no caso, o caráter objetivamente
"ocidental" da formação social brasileira, que a torna relativamente
imune a surtos prolongados de populismo - o processo de modernização da cultura
política da nossa esquerda. Até hoje, pelo menos, por parte de atores decisivos,
como os próprios expoentes políticos, os dirigentes das máquinas partidárias e
especialmente os intelectuais ditos "orgânicos", os caminhos dessa
modernização não foram trilhados sem meios-termos.
O
salto para o continente novo da democracia política - definitivamente
considerada como conquista dos "de baixo", e não instância
"burguesa" que mascara ou domestica o conflito de classes - e a
consequente queima de navios ainda não foram dados, por esta ou aquela razão.
Estamos longe do que um pensador como Giuseppe Vacca chamou de requisito da
moderna convivência civil, a saber: a recíproca legitimação dos adversários no
contexto do Estado Democrático de Direito. Tal legitimação dificultaria
discursos "refundacionais" que fazem datar do surgimento de um
partido, e não da Carta de 1988, o novo início da História do Brasil e remetem
os adversários ao limbo da representação dos prévios 500 anos de predação da
Pátria e do seu povo.”
Luiz Sérgio Henriques, tradutor, ensaísta, é um, dos
organizadores das obras de Gramsci no Brasil e editor do site Gramsci e o
Brasil e vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira.
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