quinta-feira, 1 de novembro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Luiz Sérgio Henriques: a questão democrática


Em vista dos acontecimentos recentes, com a bisonha reação de setores (majoritários?) do petismo às decisões do Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470, cabe deduzir, com algum grau de desalento, que há de ser molecular e como que conduzido pelos fatos - no caso, o caráter objetivamente "ocidental" da formação social brasileira, que a torna relativamente imune a surtos prolongados de populismo - o processo de modernização da cultura política da nossa esquerda. Até hoje, pelo menos, por parte de atores decisivos, como os próprios expoentes políticos, os dirigentes das máquinas partidárias e especialmente os intelectuais ditos "orgânicos", os caminhos dessa modernização não foram trilhados sem meios-termos.

O salto para o continente novo da democracia política - definitivamente considerada como conquista dos "de baixo", e não instância "burguesa" que mascara ou domestica o conflito de classes - e a consequente queima de navios ainda não foram dados, por esta ou aquela razão. Estamos longe do que um pensador como Giuseppe Vacca chamou de requisito da moderna convivência civil, a saber: a recíproca legitimação dos adversários no contexto do Estado Democrático de Direito. Tal legitimação dificultaria discursos "refundacionais" que fazem datar do surgimento de um partido, e não da Carta de 1988, o novo início da História do Brasil e remetem os adversários ao limbo da representação dos prévios 500 anos de predação da Pátria e do seu povo.

Luiz Sérgio Henriques, tradutor, ensaísta, é um, dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil e editor do site Gramsci e o Brasil e vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira.

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