A crise brasileira atravessa fronteiras e vai desfilar em Montevidéu, onde os presidentes do Mercosul se reúnem amanhã. Será um encontro e tanto, com foco no Brasil --a economia balança, manifestações ainda estão frescas, Dilma Rousseff acaba de perder mais da metade dos seus índices de popularidade. E não se sabe se a greve geral de hoje vai vingar...
Trata-se, pois, de um ambiente bastante diferente de quando Lula levava um rastro de otimismo na economia, todo saltitante, cheio de si, dividindo holofotes com Hugo Chávez e mal disfarçando o ciúme da exuberância do colega venezuelano. Naqueles tempos, o dinheiro jorrava na região e o principal país do bloco exalava segurança.
Desta vez, ninguém é exuberante, não há motivos para ninguém estar saltitante e o bloco se contorce nos seus problemas internos: o Paraguai continua suspenso desde a queda do presidente Fernando Lugo e a Venezuela (que só entrou no vácuo da suspensão do Paraguai) assume a presidência temporária.
Além disso, a Bolívia insiste em negar o salvo-conduto para um adversário político sair do país, os membros do bloco convivem com uma revisão para baixo no nível de crescimento, Brasil e Argentina continuam se estranhando na fundamental área do comércio. E, cá entre nós, Cristina Kirchner e a Argentina não estão nada melhores do que Dilma e o Brasil. Seria os sujos falarem dos mal-lavados.
Nem tudo, porém, está perdido. Para sorte geral, surgiram de última hora excelentes "inimigos comuns externos": os Estados Unidos, flagrados espionando não só no Brasil, mas em toda parte; e os países europeus, que fizeram a presepada de vetar o sobrevoo do avião do presidente da Bolívia, Evo Morales. Pau nos europeus! Pau nos EUA!
Com esses providenciais e poderosos inimigos comuns (nada seria melhor que os EUA!), está salva a reunião de Montevidéu. Principalmente, estão salvas as aparências.
Fonte: Folha de S. Paulo
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