Não prosperou a fusão do PPS com o PMN, que resultaria em um novo partido, o Mobilização Democrática.
Do ponto de vista do PPS, aguarda-se o pronunciamento do Tribunal Superior Eleitoral.
Foi questionado se a fusão de partidos resulta em uma nova legenda.
Em caso afirmativo, um partido resultante de uma fusão poderia receber a adesão de políticos, de legislativos e executivos, sem perda do mandato. Se o Tribunal responder negativamente, a fusão do PPS e do PMN, para o primeiro, não faria mais sentido.
O PMN já convocou um Congresso, para o dia 28 de julho, com o objetivo de desfazer a fusão.
A presidente do partido, Telma Ribeiro, disse à imprensa que as razões da separação foram a demora do PPS em formalizar a união e o afloramento de divergências entre as duas legendas.
Arrisco uma opinião mais de fundo.
O PMN tinha interesses de mera sobrevivência, diante do projeto que tramita agora no Senado, de limitação do direito de antena e do acesso ao fundo partidário, para novas legendas.
Diante da perspectiva de uma reforma política, ainda que tópica, o fim das coligações proporcionais poderia lhe causar danos irreparáveis.
O PPS, por seu turno, buscou ser um desaguadouro para políticos descontentes em suas legendas e discordantes da permanência na base aliada. O novo partido ampliaria os recursos partidários, para fortalecer uma eventual aliança com Eduardo Campos, imaginado como um polo alternativo à polarização PT x PMDB.
O PPS foi formado para se tornar um partido democrático de esquerda, reformista, inspirado na trajetória do Partido Comunista Italiano.
O PCI viveu um processo de autocrítica radical, tornou-se socialdemocrata, mudou para Partido Democrático de Esquerda, ao fundir-se com outras agremiações do espectro da esquerda italiana e, finalmente, transformou-se no Partido Democrático, ao incorporar um leque mais amplo de partidos e forças políticas.
O PCI era a força dominante na centro-esquerda italiana, desde o pós-guerra. Disputou a hegemonia política na Itália. As mutações que sofreu o levaram a um protagonismo maior e, inclusive, ao exercício do poder central. Hoje em dia, como expressão da centro-esquerda, disputa a direção do país, com grande legitimidade.
O PPS, já com 21 anos, não consegui se transformar em um grande partido e se tornar um polo de atração da esquerda democrática. É um partido pequeno, com influência importante na oposição.
Nos últimos anos tentou fusões, frustradas, com o PDT de Carlos Lupi (antes desse partido ter sido cooptado plenamente pelo lulopetismo), o PHS e agora o PMN.
Esses movimentos de fusão não corresponderam ao projeto de mutação para uma grande força de esquerda democrática, ou mesmo de centro-esquerda, mas de sobrevivência imediata, em uma espécie de realpolitik.
O PPS sempre correu o risco de frustração e de dificuldades reais para seguir em seu projeto histórico, do antigo Partidão, para algo similar ao que aconteceu em vários países, sobretudo europeus e também da Europa sob a órbita da então União Soviética. Vários partidos comunistas romperam com o marxismo clássico, transformaram-se em forças socialdemocratas e reformistas. Alguns sobreviveram como forças políticas com peso em suas sociedades.
As resistências à fusão com o PMN aconteceram, nas fileiras do PPS, pelo atropelo da velocidade das decisões, pela incompatibilidade estratégica entre os projetos das duas legendas, por dificuldades na composição dos Diretórios e Comissões Executivas e mesmo por divergências políticas sobre qual rumo tomar no imediato, se a manutenção da composição do eixo PSDB-DEM-PPS ou sua mudança para o campo do PSB.
Eduardo Campos e seu PSB caminham sobre um fio de navalha, entre as definições oposicionistas e situacionistas. O campo formado pelo PSDB, DEM e PPS, no hoje, aqui e agora, constroem, no concreto, o caminho oposicionista, inclusive para 2014. É o que a vida revela.
Espero que o PPS consiga levar adiante o projeto de fazer parte da construção de um partido amplo, socialdemocrata, reformista, para contribuir decisivamente com o amadurecimento da democracia brasileira, em contraposição ao autoritarismo e estatismo regressista que compõem o DNA do PT.
Sempre há espaços para que isto aconteça, no campo da esquerda ou da centro-esquerda. Estão aí o PSDB, a Rede Sustentabilidade, e mesmo o PSB, pelo menos. E também o horizonte histórico da derrocada do lulopetismo e da redefinição do como fazer política, o que levará a uma reordenação do espectro do quadro político-partidário brasileiro.
Antônio Sérgio Martins, corresponsável e editor de Pitacadas
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