Prefeitos protestam durante discurso em que presidente anunciou R$ 3 bilhões aos municípios; ministra aponta falha de comunicação
Leonencio Nossa
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem o repasse de R$ 3 bilhões aos prefeitos que realizavam sua marcha anual a Brasília, mas mesmo assim foi vaiada mais de uma vez enquanto discursava. A petista, que amarga queda acentuada de popularidade, se irritou com a desaprovação da plateia e afirmou que "não há milagre" na gestão pública.
O pacote de Dilma inclui o pagamento dos R$ 3 bilhões em duas parcelas, em agosto deste ano e abril de 2014, para aliviar as dificuldades dos municípios em pagar despesas de custeio. A série de anúncios do governo de distribuição de recursos, após a onda de protestos de ruas e a queda da popularidade da presidente, já ultrapassa R$ 70 bilhões.
A maior parte da verba anunciada é destinada a melhorias d as áreas de mobilidade urbana e saúde, principais reivindicações dos prefeitos. Para manter as promessas e diante do risco de ameaça da meta fiscal do governo, técnicos do Planejamento e do Tesouro Nacional começaram afazer ajustes e análises de contas.
A dor de cabeça dos técnicos e os anúncios de repasses de dinheiro se avolumam no mesmo ritmo das dificuldades de comunicação e de jogo de cintura de Dilma no evento. No discurso, ela se esqueceu de dizer que a ajuda equivalia ao reajuste do Fundo de Participação dos Municípios esperado pelos prefeitos, de 1,3%.
Desentendimento. As vaias começaram quando os prefeitos perceberam que Dilma terminava o discurso sem citar a questão do Fundo, apesar de ter citado o repasse de R$ 3 bilhões. A presidente reagiu e disse que tinha feito o programa Mais Médicos para bancar profissionais brasileiros e estrangeiros no interior e nas periferias, atendendo queixas dos municípios.
"Vocês são prefeitos como eu sou presidenta. Vocês sabem que não tem milagre. Quem falar que tem milagre na gestão pública sabe que não é verdade", disse Dilma sem esconder a irritação. Agora, nós precisamos fazer um esforço muito grande para atender aquilo que é emergencial", completou a presidente. A plateia ficou dividida. Uma parte vaiava e fazia acenos com o polegar para baixo e outra tentava acalmar os ânimos.
Com semblante fechado e corpo reto, ela desceu do palanque em meio aos gritos da plateia. Para evitar as típicas advertências da presidente, os assessores do Planalto e os seis ministros presentes ao evento não se aproximaram dela para tentar desfazer o mal-entendido.
Nas últimas semanas, o Planejamento faz um pente-fino em projetos de transporte coletivo de governadores e prefeitos para anunciar a distribuição de R$ 50 bilhões. O Tesouro avalia a possibilidade de aumentar o espaço para gastos de Estados e municípios, que não têm mais limite para novos contratos. Com a estimativa de um resultado primário melhor neste ano que em 2012, os técnicos dizem que a meta de superávit de 0,95% do PIB para Estados e municípios ainda é possível.
Na véspera, Dilma tinha trabalhado até tarde na elaboração do pacote de ajuda aos municípios que totalizava R$ 20 bilhões e incluía também, entre outras medidas, o repasse de R$ 5,5 bilhões para a construção UPAS e postos de saúde e R$ 4,7 bilhões para estender o programa Minha Casa, Minha Vida aos pequenos municípios e outros.
Explicações. Dilma já tinha deixado o evento quando o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, pegou o microfone para explicar o discurso dela. Ele informou que os R$ 3 bilhões citados por Dilma representavam um aumento de cerca de 1,3% do Fundo. Após a explicação, muitos prefeitos deixaram o evento avaliando que as vaias de parte da plateia à presidente foram injustas. Oficialmente, porém, os prefeitos reivindicam um reajuste de 2% do FPM e não apenas para este ano, mas de forma constante.
Antes de discursar, Dilma ouviu uma ironia de Paulo Ziulkoski. Ele propôs um "pacto da verdade" em que os prefeitos reduziriam o total de 113 mil secretários municipais do País e "Brasília" faria sua parte.
Ministério. Participantes do evento gritaram para a presidente reduzir o número de ministros. Atualmente, o governo conta com 39 ministérios - Dilma, em seu discurso, disse que era importante fazer o "pacto da verdade", mas não adiantava uns "empurrarem" as responsabilidades para os outros.
Na avaliação da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que acompanhou a presidente no evento, a reação negativa dos prefeitos contra a Dilma aconteceu porque a presidente não foi "compreendida" da maneira correta pelos prefeitos. / Colaboraram Rafael Moraes Moura, Lisandra Paraguassu e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de S. Paulo
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