Blog do Noblat / O Globo
Mais uma semana passou sem um acontecimento relevante capaz de melhorar a situação do governo. Pelo contrário. Ainda bem, para a presidente Dilma Rousseff, que a escala doimpeachment segue marcando 45% de probabilidade.
O Palácio do Planalto continua emitindo sinais confusos. O ministro Aloizio Mercadante sai ou não sai da Casa Civil? Segundo alguns aliados, já deveria ter saído, pois ele foi o cérebro de todos os equívocos políticos do governo.
A última derrapada da Casa Civil foi anunciar que estava contabilizando os votos a favor e contra o impeachment na Câmara. O que deve ser feito, mas sem divulgação. Mesmo com as iniciativas de Mercadante jogando contra, Dilma tem agora a seu favor o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara, que virou seu “melhor aliado”. Ele é o gate keeper do impeachment.
Mas está chegando o momento em que ele terá que dar curso a um pedido. Estima-se que existam 280 votos na Câmara a favor da abertura do processo, mais do que o necessário para aceitar a denúncia em votação de recurso no plenário, caso ela seja rejeitada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Faltariam 62 votos para ele ser aprovado em termos definitivos e em seguida enviado ao Senado, onde ocorre o julgamento político comandado pelo presidente do Supremo. Tudo indica que, no final outubro, o impeachment poderá começar a tramitar, mesmo que Cunha faça corpo mole. A oposição já decidiu defender tal solução contra a opinião de FHC.
Pelo lado do governo, gasta-se mais tempo discutindo o que fazer com Mercadante do que como agir para impedir o naufrágio. Dilma não sabe o que fazer, não confia em ninguém, está sozinha vendo seu reino desabar. Como disse o jornalista Ricardo Noblat em seu blog, a presidente fala tanto em impeachment que o tema tornou-se um matter of life. Algo que parece inevitável nas entrelinhas de seu discurso.
Hoje não existe a prova cabal de um mal feito que justifique o processo, mas ao cometer tantos erros e falar compulsivamente sobre o assunto, o governo está acendendo fósforo perto de um barril de pólvora. Diante desse quadro, deputados oposicionistas e descontentes da base governista avaliam que o impeachment é uma fatalidade, salvo se a presidente tomar medidas suficientemente fortes para tirar o governo da UTI.
O grupo está convencido de que o TCU (Tribunal de Contas da União) dará parecer unânime contrário às contas da presidente de 2014, oferecendo o argumento jurídico para o Congresso rejeitá-las. Com base nisso, o pedido do impeachment não passaria de formalidade. Na visão deles, a proposta de recriação da CPMF contribuiu para alavancar o movimento a favor da interrupção do mandato da presidente.
Embora não tenham os 342 votos (dois terços) necessários para aprovar o pedido, os parlamentares anti-Dilma identificam três fatores que podem gerar uma onda que atrairia, aos poucos, a maioria: 1) a sangria da capacidade de governar da presidente; 2) a decisão do TCU contra as “pedaladas” nas contas do governo; 3) a pressão da opinião pública sobre os partidários de Dilma à medida que o impeachment tramitar.
Eles contam com o adiamento da votação do parecer do ministro Augusto Nardes, marcada para a primeira quinzena de outubro, apenas como um pit stop que dará consistência ao processo. E apostam na crescente mobilização popular depois de iniciada a tramitação da matéria.
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Murilo de Aragão é cientista político
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