• Não há colapso nas contas externas, fugas de dólar etc.: não se sabe se há política econômica
- Folha de S. Paulo
O dólar nas alturas é um exagero de pessimismo provocado por um exagero de bobagens no que restou da política econômica e pela míngua da autoridade de Dilma Rousseff. Não há sinal de sangria de dólares nem desordem financeira provocada pela desvalorização –por ora. Não há crise cambial "típica".
Isso não quer dizer que o país não possa se arrebentar com o dólar flutuante na estratosfera. Mas indica onde o fogo pega. Desde que o governo apresentou orçamentos irrealistas, fez revisões desastradas das metas de superavit e, cereja do bolo, um Orçamento deficitário para 2016, a percepção de que vamos nos estrepar cresce.
O custo de fazer seguros financeiros (chamados de CDS) para investimentos em reais aproxima-se daquele de terras arrasadas como Venezuela, Grécia ou Paquistão. Nas asas dessa Panair dos infernos, no nível do CDS e das taxas de juros, viaja o preço do dólar. O crédito para as empresas se torna inviável.
Mas não há fuga de dólares –por ora. O balanço de entradas e saídas de moeda ("fluxo cambial") é positivo no mês e em 12 meses. É periclitante, decerto. Há grande entrada pelo canal comercial (dólares que importadores passaram a trazer em massa do exterior, dado o preço bom), que pode minguar. No canal financeiro, há deficit. Mas mesmo em tempos recentes já se viu coisa bem pior: 2013 e 2014 fecharam no vermelho.
Não há corridas, detentores de dinheiro tentando trocar desesperadamente reais por dólares –por ora. Não há quebradeira de empresas com contas em dólar, embora comecem a surgir rumores sérios de empresas sem proteção e a Petrobras esteja nas cordas, à beira de não ter saída a não ser aumentar o capital a preço de banana ou ao custo de falir ainda mais o governo.
No entanto, as perdas são reduzidas –por ora. O Banco Central oferece proteção para passivos privados em dólar, mais de US$ 100 bilhões de proteção por meio de vendas de futuras de dólar empréstimos temporários. Em suma, o BC (nós) banca essa conta, pois perde dezenas de bilhões com a desvalorização do real. Mas, goste-se ou não dessa política, tal programa evita desastres maiores. Por ora.
Ainda tem entrado capital suficiente para cobrir nosso excesso (cadente) de gastos no exterior, ainda que as entradas sejam cada vez menores.
Tanto o setor público como o privado têm conseguido rolar (refinanciar) suas dívidas no exterior, com menos folga e a preços mais salgados, mas têm. Enfim, o Brasil não tem dívida externa (tem mais a receber do que a pagar).
O tumulto advém do fato de a presidente não ter apoio político mesmo entregando desesperadamente o resto do governo ao PMDB. Do fato de seu pacote fiscal desesperado estar sob risco de degola iminente. De empregar seu poder restante a fim de ainda incentivar maluquices econômicas. De não se saber qual será o governo no mês quem vem. É o custo do descrédito, do risco de outra degradação formal do crédito. De não se saber o que será de deficit, inflação e juros: de não haver, na prática, política econômica.
Porém, ainda que ontem no mercado se fizessem piadas sinistras ("Dólar e Dilma têm R$ 5 letras"), um pouco de calmaria na mixórdia pode conter o exagero do dólar.
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