O ex- presidente Lula convenceu a presidente Dilma a ampliar o espaço do PMDB no governo, que deve ganhar também Saúde e Infraestrutura, reduzindo poder do PT. Com isso, ela pode deixar para anunciar a reforma na próxima semana. Dilma ofereceu ao PDT as Comunicações.
Dilma deve dar ainda mais cargos ao PMDB
• Partido é tido como crucial para aprovar ajuste fiscal e impedir processo de impeachment
Washington Luiz, Simone Iglesias, Júnia Gama e Chico de Gois - O Globo
- BRASÍLIA- Diante da gravidade da crise política e econômica, a presidente Dilma Rousseff foi convencida ontem pelo expresidente Luiz Inácio Lula da Silva a fazer “um governo de coalizão” com o PMDB. Em outras palavras, a dar mais poder ao principal aliado, cujas bancadas no Congresso são cruciais para a aprovação das medidas do ajuste fiscal e para impedir que prospere um eventual pedido de impeachment. Em 2005, no auge do escândalo do mensalão, essa foi exatamente a estratégia de Lula, que deu o Ministério da Saúde para o deputado Saraiva Felipe e o Ministério das Minas e Energia para Silas Rondeau, indicado pela bancada do PMDB no Senado.
Durante encontro que teve com Lula no Alvorada, Dilma teria ouvido do expresidente que precisa conversar mais com o vice Michel Temer e com o presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL). Lula ressaltou a importância do PMDB no governo, mas lembrou também que Dilma deve conversar com os movimentos sociais e com o PT no Congresso para não irritar a base do partido.
PR, PP e PRB devem manter pastas
Diante da delicadeza das negociações que ainda precisavam ser feitas, a presidente cogita deixar a reforma ministerial, que estava marcada para hoje, para a próxima semana, quando voltar da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Segundo um ministro que participou das reuniões feitas ontem por Dilma, o anúncio das mudanças será feito de uma só vez pela própria presidente. À noite, no entanto, o vice- presidente Michel Temer sugeriu a Dilma que faça todos os anúncios hoje para não deixar indefinida por mais uma semana a situação dos ministros que devem perder os cargos.
— A discussão de ministérios com os deputados do PMDB foi a alternativa possível. A presidente se agarrou a ela como forma de abrir uma porta para o diálogo — disse um auxiliar de Dilma.
A articulação que está sendo feita é para “buscar interlocução” com o Congresso. No Planalto, a avaliação é que qualquer ponte agora garante a Dilma oxigênio para governar, diante de um cenário que parecia insolúvel. Para evitar mais problemas, a presidente deverá manter o PR no Ministério dos Transportes; o PP na Integração Nacional; e o PRB no Esporte.
Apesar de ter dito no início da semana que não tinha intenção de indicar novos ministros, a cúpula do PMDB atuou ao longo dos dois últimos dias para ampliar significativamente o espaço do partido no governo. O discurso dos caciques do partido era que qualquer mudança brusca iria criar rusgas insanáveis com políticos e bancadas importantes.
Ao fim do dia de ontem, Kátia Abreu ( Agricultura) e Eduardo Braga ( Minas e Energia) já haviam recebido garantias da presidente de que ficarão onde estão. Henrique Alves ( Turismo) e Eliseu Padilha ( Aviação Civil) estavam perto de conseguir o mesmo. O único peemedebista que deve perder o cargo de ministro é Edinho Araújo ( Portos), mas sua pasta pode ser entregue ao atual ministro da Pesca, Hélder Barbalho. Dilma seguiu conselho de Temer, que a alertou de que foi o senador Jader Barbalho, pai de Hélder, que conteve Renan Calheiros no auge do confronto com o governo.
Com a possibilidade desta configuração, Dilma pode desistir da fusão entre Portos e Aviação Civil, que daria origem a um ministério de infraestrutura, oferecido à bancada do PMDB na Câmara. Aos deputados do partido, no entanto, já foi garantido o Ministério da Saúde.
PMDB dá respaldo a Henrique Alves
Henrique Alves se mobilizou ao longo dos dois últimos dias para ser mantido em algum lugar. Partiu do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( RJ), com quem Alves conversou ontem, a sinalização para que isso ocorra.
— A bancada indicou deputados para duas pastas e respaldou a manutenção do meu nome no Ministério do Turismo — disse Alves.
Para o ministro, é importante e natural o diálogo da presidente Dilma com os líderes aliados, não só em relação a ministérios, mas também para a votação dos projetos que precisam ser aprovados para superar a crise.
— O PMDB faz parte do governo, se elegeu, e o que está em jogo é o país. Esse diálogo com a bancada ajuda muito no enfrentamento da crise.
Comunicações pode ir para o PDT
Dilma ofereceu o Ministério das Comunicações ao PDT, que hoje ocupa a pasta do Trabalho, com Manoel Dias, nome que os deputados dizem que não os representa. Para consolidar sua nova base, Dilma se reuniu com o presidente do PDT, Carlos Lupi, e aceitou nomear para as Comunicações o deputado André Figueiredo ( PDT- CE), que é líder da bancada na Câmara.
O PDT formalizou há poucas semanas “independência” do governo, depois da aprovação do primeiro pacote de ajuste fiscal com redução da concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários. Apesar de ter aceitado o novo ministério, Lupi não se comprometeu a apoiar todas as medidas de ajuste fiscal.
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