• Governo negocia reforma ministerial e consegue evitar derrubada de vetos no Congresso, mas incertezas mantêm escalada do dólar
Evitou-se, na madrugada desta quarta-feira (23), um desastre econômico e político que teria, provavelmente, o poder de acarretar o cabal desgoverno das contas públicas e, com isso, tornar definitivo o colapso da sustentação da presidente Dilma Rousseff (PT).
De modo até certo ponto surpreendente –e que reflete o grau desesperado da situação–, foi a própria chefe de governo quem tomou a iniciativa de contatar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e seu correspondente no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), num apelo para que a apoiassem na questão.
Tratava-se de não derrubar a série de vetos que o Palácio do Planalto impusera a medidas anteriormente votadas pelo Congresso. No total, tais medidas representariam despesas calculadas em R$ 127,8 bilhões até 2019.
Para se ter uma ideia mais clara da extensão de tais liberalidades, apenas uma delas, a que determinava a isenção de impostos sobre o óleo diesel, esvaziaria dos cofres públicos um montante superior a R$ 64 bilhões em quatro anos.
Trata-se de quantia similar ao de toda a economia pretendida no próximo ano com o pacote de medidas lançado há poucos dias pelas autoridades econômicas.
Dada a extrema fragilidade do governo, não eram incomuns os prognósticos de que o Congresso mantivesse sua disposição de abrir novos rombos no Orçamento.
Dos 32 vetos colocados em votação, entretanto, 26 foram mantidos. Vários motivos dão conta desse resultado –ainda incompleto, todavia, já que a crucial decisão sobre os aumentos salariais do Poder Judiciário foi adiada.
As pressões e cálculos em torno da reforma ministerial, contemplando o PMDB com novas fatias de poder, como a pasta da Saúde, naturalmente tiveram seu peso.
Mais premente foi a angústia motivada pela corrosão da moeda brasileira em relação ao dólar, cujas cotações ultrapassaram a barreira dos R$ 4. O Executivo, instado a demonstrar alguma força para debelar o pânico, e o Legislativo, sob o temor de precipitar uma crise irreversível, chegaram a um entendimento forçado.
Dilma se moveu, enfim –e a vitória parcial das primeiras horas do dia ensejou algum otimismo nas hostes governistas; pela manhã, o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, celebrou uma "mostra de maturidade" dos congressistas. A tarde evidenciou, no entanto, a precariedade do sucesso.
Enquanto ministérios eram barganhados, o dólar prosseguiu em sua escalada e atingiu novo recorde; a reação tardia manteve o governo respirando, mas ainda longe de se livrar do risco de afogamento.
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