Por Raquel Ulhôa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Um dia depois de conseguir a aprovação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o registro do seu partido, o Rede Sustentabilidade, a ex-ministra Marina Silva foi ontem à sede do PSB, com aliados, entregar ao presidente, Carlos Siqueira sua carta de desfiliação da legenda pela qual concorreu à Presidência em 2014. O PSB, cuja direção nunca teve expectativa de manter Marina em seus quadros, pretende construir com o Rede alianças nas eleições municipais de 2016, num campo político de centro-esquerda que quer manter até 2018.
"Podemos construir algumas alianças que sejam de interesse comum. Principalmente nos grandes centros e nas principais cidades é interessante", disse Siqueira ao Valor. Com a decisão do TSE, o novo partido - o 34º do país - pode receber filiados e participar das próximas eleições.
Segundo o presidente do PSB, a intenção é formar um polo com outros partidos de centro-esquerda para disputar "com força" as eleições municipais e a eleição presidencial de 2018, diferente do campo formado por PSDB e DEM. Marina agradeceu a solidariedade e a acolhida que seu grupo teve de Eduardo Campos e da direção do PSB, quando o TSE negou o registro de criação do Rede, em 2013.
"O PSB nos acolheu num momento de trauma, em que as expectativas se estreitaram e os horizontes ficaram turvos. A ousadia de Eduardo e do PSB, reconhecendo a Rede como partido de fato, embora ainda não de direito, e a abrigando por meio de filiações cívicas, foi generosa e solidária, para além da estratégia política de interesse comum", diz Marina na carta.
Deixa clara a expectativa de parceria futura com o PSB. "O pedido de desfiliação que ora faço mistura sentimentos de tristeza por encerrarmos uma etapa de estreita colaboração, e de esperança, pelo longo caminho de busca de convergências que, estou certa, o Rede e o PSB ainda têm pela frente", afirma. Em homenagem à história que uniu as duas legendas, Marina e seu grupo foram convidados a permanecerem filiados honorários do PSB. Por sua vez, a ex-ministra convidou o vice-presidente do PSB, Beto Albuquerque, a ser filiado honorário do Rede. Ele foi candidato a vice-presidente em sua chapa.
Em 2013, após o TSE rejeitar o registro de criação do Rede, por falta de assinaturas exigidas legalmente, Eduardo Campos convidou Marina e seu grupo a migrarem para o PSB, até a criação da legenda. Assim, deu a eles condições de disputarem as eleições de 2014. Os integrantes do Rede mantinham organização e vida partidária independente. Marina foi vice de Eduardo Campos na disputa para a Presidência da República e, com a morte do ex-governador de Pernambuco, foi convidada pelo PSB a substituí-lo como candidata a presidente.
"Fizemos juntos, e com os demais partidos da coligação, da melhor maneira possível, o exercício de construir uma aliança com base em compromissos e propostas para o país, o que nos possibilitou promover o encontro e explicitar a unicidade das agendas da sustentabilidade, da justiça social e da autonomia do Estado", continua Marina, na carta a Siqueira.
Ela diz que o Rede e o PSB foram "coautores de uma experiência concreta e ao mesmo tempo visionária que começa a puxar o fio da meada da verdadeira mudança da política brasileira". Fala com emoção da morte de Eduardo - em acidente aéreo, no dia 13 de agosto de 2014.
"Vocês possibilitaram a nós ter inserção política na conjuntura nacional como um partido político sem ser um partido político. Fizeram uma aliança conosco sem que tivéssemos como aportar sequer um segundo de televisão ou qualquer estrutura, que não tínhamos, mas em torno de ideias e de um programa", disse Marina aos dirigentes com os quais ela e aliados se reuniram. Estava acompanhada de Bazileu Margarido e Gabriela Batista, porta-vozes do Rede Sustentabilidade, Sérgio Xavier, membro da Executiva do partido, e Pedro Ivo, coordenador nacional de organização.
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