• Dilma aceita a criação de um comodato em que ela reparte poder com seu criador e o baixo clero peemedebista, sem avanço consistente no corte de despesas
A defesa da redução no número excessivo de 39 ministérios surgiu na bancada do PMDB ainda quando o partido desafiava a presidente Dilma — vê-se agora que se tratava mesmo de tática da legenda para elevar seu “preço” no balcão do fisiologismo.
Mas a bandeira foi absorvida pelo Planalto, incluída na plataforma pouco convincente do governo em favor da austeridade, e ontem o assunto constou do discurso em que a presidente Dilma anunciou novos ministros, já para um número menor de pastas — foram cortadas oito e não dez, como havia sido considerado.
A presidente procurou revestir o encolhimento da máquina burocrática com alguma pompa, ao lançar a “Comissão Permanente de Reforma de Estado", quase uma contradição em termos tratando-se de um governo lulopetista. “Reforma de Estado” é tema demonizado por quem defende o modelo de um poder público obeso, centralizador e tutor da sociedade. Como foi tentado nestes últimos 13 anos.
Porém, é positiva a iniciativa da presidente de cortar os oito ministérios, anunciar o fim de 30 secretarias e de 3 mil cargos comissionados — três vezes mais que o previsto inicialmente —, o que significa voltar-se a um número aproximado desses cargos de “confiança” do início da Era Lula. Há ainda promessas de cortes em despesas de custeio — carros, água, luz, telefone — e venda de imóveis, e até mesmo a redução em 10% dos salários dos ministros e dela mesma, bem como do vice Michel Temer, de praxe em situações como esta. Paga-se para ver o cumprimento de várias dessas promessas, algumas delas de difícil acompanhamento e mensuração, além de se prever, numa máquina burocrática aparelhada de companheiros, muita resistência a cortes. Se não houver um pulso forte por trás da “reforma de Estado”, nada acontecerá.
Enquanto no que se refere à “reforma administrativa” e corte de despesas o discurso da presidente ficou mais no campo das intenções, nas trocas de ministros houve forte sinalização de mudança no eixo político do governo: Dilma reconheceu que não pode prescindir do criador, Lula, e este admitiu que de alguma forma seu futuro continua ligado ao do governo Dilma, fruto da sua falta de opção na busca de um sucessor depois da queda em desgraça de José Dirceu e Antonio Palocci. Engaveta-se, pelo menos por enquanto, o projeto do Lula “oposicionista”, para chegar em 2018 como restaurador dos “bons tempos". Os dele.
A reforma ministerial tem várias marcas lulistas. Como o afastamento de Aloizio Mercadante da Casa Civil (de volta ao MEC), trocado por Jaques Wagner, antiga pregação do ex-presidente. Já Ricardo Berzoini assume a coordenação política. Ele, Jaques Wagner e Edinho Silva, mantido na Comunicação, constituem uma trinca muito próxima a Lula.
Outra marca do ex-presidente é a abertura de espaço ao PMDB, ocupante de sete pastas, uma a mais que no ministério anterior. Sem discriminar o baixo clero, representado por Celso Pansera, também ligado a Eduardo Cunha, e agora ministro da Ciência e Tecnologia. Foi dessa forma que o presidente Lula se protegeu de ameaças de impeachment, a partir de 2005, no mensalão. Aplica o método em defesa de Dilma, acossada no Tribunal de Contas e na Justiça Eleitoral.
Lula se fortaleceu no Planalto, neste governo em comodato que Dilma lançou ontem. A questão é saber se a barragem de proteção a Dilma edificada no Congresso ajudará no ajuste fiscal. Pois a reforma administrativa de Dilma é importante apenas como gesto político. Para reequilibrar as contas públicas serão necessárias reformas contra as quais se coloca o próprio lulopetismo.
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