• Oposição acusa governo de distribuir espaços de poder para se sustentar
Catarina Alencastro, Geralda Doca, Maria Lima e Cristiane Jungblut - O Globo
BRASÍLIA - Reforma pacifica base, mas economia ainda é uma ameaça. Líderes da base e ministros avaliam que a vida da presidente Dilma Rousseff irá melhorar no Congresso após a reforma ministerial, que contemplou, principalmente, PMDB e PDT. Com pedidos de impeachment pendentes na Câmara, Dilma admitiu em seu discurso que a reforma visa o fortalecimento da sua base. Mas a avaliação de congressistas é que a eficácia da reforma vai depender de como os novos ministros vão atuar, e se ela conseguirá unificar o PMDB e outros partidos que estão rachados. Afastar a ameaça do impeachment e aprovar um novo imposto para fechar as contas do governo, avaliam interlocutores de Dilma, vão depender de sua capacidade de demonstrar que está fazendo sua parte para reequilibrar as contas e reduzir o tamanho do Estado.
Por mais que o PMDB tenha saído fortalecido na reforma ministerial, reservadamente ministros e lideranças do partido consideram que isso, por si só, não garantirá vida fácil para a presidente no Congresso. As negociações deixaram sequelas dentro do próprio PMDB, e, com exceção do PDT que ganhou a estratégica pasta de Comunicações, nos demais partidos da base que estão votando divididos não houve movimento para melhorar a relação.
— O mais bobo de nós sabe que a presidente Dilma usou a lógica de dividir para reinar. O que vamos buscar agora é a unidade do partido, seja para fortalecer seu governo, seja para tomar uma decisão contrária. No PP e no PR, 50% do partido continuam votando contra e as insatisfações continuam. O PDT aumentou sua franquia, mas no PMDB a divisão continua — avaliou um dos integrantes da cúpula do PMDB.
Ministra minimiza manifesto
Alçada à condição de uma das principais interlocutoras de Dilma, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), disse que a reforma ministerial dá ao seu partido “110%” de satisfação:
— O PMDB está 110% satisfeito, tem até gordura. As mudanças consolidam o PMDB no governo.
A ministra minimizou a manifestação assinada por um grupo de 22 deputados federais do PMDB, que, em carta, isentouse do compromisso de fidelidade ao governo por conta das nomeações de correligionários ao Ministério. Segundo ela, tratase de uma minoria. E, do grupo, apenas oito são radicais. Os demais, disse, votam na maioria das vezes com o governo.
Padilha cobra fidelidade
O ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, avalia que, para a reforma surtir efeito, o governo precisa dar transparência em todos os seus movimentos na prometida redução da máquina pública. Após o anúncio da reforma ministerial, Padilha avaliou que a bancada do PMDB na Câmara deverá corresponder ao gesto da presidente.
— A presidenta Dilma fez todos os gestos que foram solicitados a ela pela bancada na Câmara. O Ministério da Saúde é o maior ministério da República. O Ministério da Ciência e Tecnologia é um senhor ministério, sob o ponto de vista de sua organicidade, sua amplitude dentro do cenário político nacional. Eu penso que agora a bancada também deverá fazer o maior esforço possível para corresponder. Em um governo de coalizão, se pressupõe que as partes estejam trabalhando com o mesmo objetivo — disse Padilha.
A oposição acusou a presidente de realizar a reforma ministerial para evitar um processo de impeachment.
“A chamada reforma administrativa apequena ainda mais o governo Dilma. Apequena o governo pela forma como a presidente age para se manter no cargo: distribuindo espaços relevantes de poder não em busca da melhoria da qualidade do governo, mas para garantir votos que impeçam o seu afastamento. Os efeitos dessas mudanças serão efêmeros e a presidente continuará precisando mostrar ao país que tem condições de tirá-lo da gravíssima crise na qual seu governo nos mergulhou”, disse o presidente do PSDB, Aécio Neves, em nota.
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