• Com cessão de poderes ao PMDB e a Lula, Dilma reduz por ora o risco de afastamento, mas não garante ajuste econômico
Afora algumas medidas de impacto simbólico, a reforma ministerial finalmente definida nesta sexta-feira (2) dá conhecimento de que a presidente Dilma Rousseff (PT) rendeu-se, em um pragmatismo tardio e melancólico, à condição de refém do PMDB.
O partido, ao mesmo tempo aliado formal e interessado direto no afastamento da presidente, obteve sete postos na Esplanada, acrescentando a seu quinhão Ciência e Tecnologia e a portentosa Saúde.
Sem disfarçar o propósito essencial de evitar um processo de impeachment, Dilma entregou poder também a Lula, antecessor e padrinho, que participou das negociações e reorganizou o comando político do PT no Planalto.
Saiu da Casa Civil Aloizio Mercadante, primeiro conselheiro da presidente, substituído por Jaques Wagner, até então na Defesa. Se tem lá sua importância para a economia interna petista, para o avanço do ajuste orçamentário de urgência trata-se de troca de seis por não muito mais que meia dúzia.
Do lado administrativo, o indecente número de ministérios foi reduzido de 39 para 31 –dois a mais que o inicialmente prometido e cinco acima da quantidade existente antes da chegada do PT ao Planalto. Houve ainda cortes de secretarias, cargos comissionados e salários do primeiro escalão.
De mais desolador, lançaram-se ao regateio do varejo político pastas cruciais como Educação –abrigo de Mercadante, o terceiro no cargo só neste ano– e Saúde, cuja verba anual soma R$ 110 bilhões.
Tudo considerado, permanece obscuro qual será o alcance da manobra de abdicar de grande parte do comando em nome da comunhão de peemedebistas e lulistas. A presidente, de todo modo, adquiriu tempo, a preço elevado.
Mesmo que não venha a satisfazer todas as facções do PMDB, a divisão do partido dificulta a formação da maioria necessária para dar início ao impedimento de Dilma.
Há pela frente, no entanto, armadilhas como o congresso previamente marcado para novembro em que os peemedebistas pretendiam anunciar pelo menos uma separação amigável da presidente.
Já na próxima semana deve acontecer o exame das contas de 2014 do governo, com forte tendência de reprovação pelo TCU. Investigações em curso, que pairam sobre Lula, as campanhas de Dilma e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), representam riscos adicionais de turbulência.
Por fim, nem mesmo estão garantidos os votos para as medidas econômicas impopulares. Derrotas nessa agenda têm o potencial de reavivar o pânico financeiro e solapar apoios restantes que a presidente têm na sociedade.
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