• Depois de maldizer Dilma, ex-presidente volta a acreditar que pode virar o placar
Alan Gripp - O Globo
Ao ampliar seu espaço no governo, Lula dobra a aposta. Quando a crise política do segundo governo Dilma tomou proporções dramáticas, o ex- presidente Lula passou a maldizer sua escolhida aos quatro ventos, atribuindo o quadro caótico à inabilidade política dela e, principalmente, à insistência em ignorar os seus conselhos.
Sem ver saída para sua sucessora, buscava afastar- se do lamaçal. O movimento levou o mundo político a interpretar o descolamento como uma estratégia de Lula para manterse no jogo eleitoral, com vistas a 2018, ainda que inevitavelmente o ex-presidente tenha que lidar com o desgaste de ser o inventor de Dilma.
Por esse raciocínio, quanto mais cedo terminasse o atual governo, mais tempo Lula teria para recuperar seu prestígio, atuando na oposição, campo em que se sente muito confortável. Militaria, é bom lembrar, contra um governo ainda em crise. E o tempo ajudaria a cicatrizar feridas.
Nos últimos dias, o quadro mudou. Para salvar seu mandato, Dilma sucumbiu. Entregou o filé da Esplanada ao PMDB e o coração do governo a Lula. Peças estratégicas foram mexidas, mas o símbolo maior da mudança foi a troca na Casa Civil: saiu Aloizio Mercadante, dono das orelhas mais quentes de Brasília, e entrou Jaques Wagner, lulista de primeira hora.
Mas por que Lula, que parecia já ter desistido de Dilma, decidiu embarcar nessa imprevisível empreitada? Qual é, afinal, o jogo do ex-presidente?
Só há uma hipótese razoável: Lula ainda acredita que, dando as cartas, pode virar o placar. Tentará reestabelecer uma mínima base aliada, aprovar parte do ajuste fiscal, conter os ânimos dos movimentos sociais e, assim, chegar às vésperas da eleição presidencial num ambiente mais ameno. Contra uma oposição desorganizada, a disputaria em condição ao menos não tão desigual.
A estratégia, é claro, tem incontáveis furos. Para citar alguns: o Congresso pode não entregar o prometido, a economia pode chegar a um ponto de descontrole e Dilma, claro, pode criar mais crises políticas. Apesar do risco, Lula decidiu dobrar a aposta.
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