No
segundo turno, parece que vai predominar o pragmatismo
Nesses
oito meses de confinamento, saí de casa três vezes: uma para ir ao dentista,
outra para consulta médica e a terceira, no domingo, para votar. Não era
obrigado, por causa da idade, mas fiz questão. Pertenço a uma geração em que o
ato de votar foi até proibido. Por isso, mais do que dever, eleição para mim é
um prazer cívico, principalmente quando se trata de nossa cidade.
Adriana
Calcanhotto cantou: “Cariocas são bonitos/ Cariocas são bacanas/ Cariocas são
sacanas/Cariocas são dourados”. Ela poderia acrescentar: “Cariocas não sabem
votar”. Na história recente do Rio de Janeiro, há pelo menos o caso de cinco
ex-governadores que chegaram a ser presos acusados de corrupção: Sérgio Cabral,
Luiz Fernando Pezão, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Moreira Franco. O
mais recente, Wilson Witzel, foi afastado e está sob ameaça de impeachment.
Embora tenha levado o Rio ao fundo do poço, Marcelo Crivella não foi preso e,
graças a uma Câmara de vereadores amigos, escapou do impeachment. Agora, ele vai
tentar a reeleição com o apoio reticente de Bolsonaro e de sua base evangélica,
ou seja, neopentecostal.
Acontece
que, na disputa deste segundo turno, parece que vai predominar o pragmatismo —
não interessam o credo e a ideologia do candidato, em que acredita e o que
pensa, mas o que é capaz de realizar por uma cidade que acumula todos os
problemas: dos buracos nas ruas à crise da saúde e da segurança, da
precariedade dos hospitais à violência policial.
Diante
das derrotas dos candidatos a prefeito e vereador apoiados por Bolsonaro (sem
falar no Carlos Zero Dois, que teve 35 mil votos a menos do que em 2016, quando
foi recordista), o bolsonarismo se dividiu: há até os que acham que o
presidente deve ficar longe do segundo turno. Filipe Martins, importante assessor
da Presidência, adverte: “Ou fazemos a devida autocrítica, ou nossos erros
cobrarão um preço ainda maior no futuro”.
E o futuro é daqui a pouco.
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