quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Zuenir Ventura -A hora da autocrítica

- O Globo

No segundo turno, parece que vai predominar o pragmatismo

Nesses oito meses de confinamento, saí de casa três vezes: uma para ir ao dentista, outra para consulta médica e a terceira, no domingo, para votar. Não era obrigado, por causa da idade, mas fiz questão. Pertenço a uma geração em que o ato de votar foi até proibido. Por isso, mais do que dever, eleição para mim é um prazer cívico, principalmente quando se trata de nossa cidade.

Adriana Calcanhotto cantou: “Cariocas são bonitos/ Cariocas são bacanas/ Cariocas são sacanas/Cariocas são dourados”. Ela poderia acrescentar: “Cariocas não sabem votar”. Na história recente do Rio de Janeiro, há pelo menos o caso de cinco ex-governadores que chegaram a ser presos acusados de corrupção: Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Moreira Franco. O mais recente, Wilson Witzel, foi afastado e está sob ameaça de impeachment. Embora tenha levado o Rio ao fundo do poço, Marcelo Crivella não foi preso e, graças a uma Câmara de vereadores amigos, escapou do impeachment. Agora, ele vai tentar a reeleição com o apoio reticente de Bolsonaro e de sua base evangélica, ou seja, neopentecostal.

Acontece que, na disputa deste segundo turno, parece que vai predominar o pragmatismo — não interessam o credo e a ideologia do candidato, em que acredita e o que pensa, mas o que é capaz de realizar por uma cidade que acumula todos os problemas: dos buracos nas ruas à crise da saúde e da segurança, da precariedade dos hospitais à violência policial.

Diante das derrotas dos candidatos a prefeito e vereador apoiados por Bolsonaro (sem falar no Carlos Zero Dois, que teve 35 mil votos a menos do que em 2016, quando foi recordista), o bolsonarismo se dividiu: há até os que acham que o presidente deve ficar longe do segundo turno. Filipe Martins, importante assessor da Presidência, adverte: “Ou fazemos a devida autocrítica, ou nossos erros cobrarão um preço ainda maior no futuro”.

E o futuro é daqui a pouco.

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