quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Bernardo Mello Franco - Derrotados sem concorrer

- O Globo

É possível perder uma eleição sem disputá-la? No domingo, Jair Bolsonaro não foi o único a mostrar que sim. No Rio e em São Paulo, dois líderes do campo progressista abriram mão de se candidatar a prefeito. Ao fugir da raia, eles frustraram aliados e levaram seus partidos a encolher nas urnas.

Marcelo Freixo, do PSOL, tinha boas chances de se eleger no Rio. Em maio, surpreendeu ao desistir da candidatura. O deputado alegou que a esquerda não se uniu para apoiá-lo. Era uma meia verdade. O PT já havia topado uma aliança, com Benedita da Silva como vice.

Freixo indicou o pastor Henrique Vieira para substitui-lo. Foi uma operação desastrada. O escolhido não havia transferido o domicílio eleitoral de Niterói para o Rio. A chapa sobrou para Renata Souza, que não teve tempo para se tornar conhecida.

Em setembro, Freixo ensaiou um retorno depois que operações policiais atingiram Eduardo Paes e Marcelo Crivella. Era tarde demais. Num partido em que a questão identitária fala alto, não havia espaço para retirar uma candidata negra e feminista.

Sem o puxador de votos, o PSOL encolheu. O partido, que era a segunda força na política carioca, amargou um sexto lugar na disputa majoritária. Engolida pelo voto útil, Renata terminou com 3%. O desastre só não foi maior porque a sigla elegeu sete vereadores.

De São Paulo, veio o exemplo de que Freixo não precisava tanto de uma frente ampla. Com apenas 17 segundos na TV, Guilherme Boulos levou o PSOL ao segundo turno contra Bruno Covas. Ele avançou sobre os escombros do PT, que não conseguiu convencer Fernando Haddad a se candidatar.

De olho na próxima corrida presidencial, o ex-prefeito recusou os apelos para entrar na disputa. A decisão levou o PT a um fiasco histórico. O candidato Jilmar Tatto ficou em sexto lugar, atrás de um youtuber de direita que atende pelo apelido de “Mamãe Falei”.

Freixo e Haddad estão entre os políticos mais preparados de sua geração. Os dois têm razões para reclamar da burocracia partidária, mas precisam refletir sobre os erros de 2020.

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