Presidente fala grosso com compradores estrangeiros, mas facilita vida de desmatadores
Jair
Bolsonaro quase fingiu interesse na preservação ambiental. Durante a cúpula dos
Brics, o presidente prometeu divulgar "nos próximos dias" uma lista
de países
que recebem madeira extraída ilegalmente no Brasil. O objetivo do
discurso era alimentar uma picuinha internacional, mas a ameaça expôs ainda
mais a negligência do governo no combate ao desmatamento.
Seria
uma boa notícia se as autoridades brasileiras fechassem o cerco ao mercado milionário
de extração ilegal na Amazônia. Bolsonaro, no entanto, só parece interessado
numa das pontas dessa cadeia. O presidente quer falar grosso com os compradores
estrangeiros, enquanto facilita o trabalho dos vendedores.
Desde
o início do mandato, o governo sabotou operações contra o desmatamento.
Bolsonaro trabalhou para impedir
a destruição de máquinas usadas em atividades criminosas. No ano
passado, ele ouviu uma queixa de madeireiros e gravou um vídeo em que prometia
dificultar o cumprimento dessa norma.
Há
poucos meses, o governo ainda reduziu a exigência de documentação sobre o
material que sai do país. Em março, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o
presidente do Ibama liberou exportações sem a necessidade de uma autorização
específica. Os madeireiros do Pará enviaram uma nota de agradecimento.
Na
bravata direcionada aos desafetos estrangeiros, o governo ignorou o fato de que
boa parte da madeira extraída ilegalmente no Brasil fica no mercado nacional. O
presidente tentou
intimidar os países de destino dessas exportações, e o assessor
especial Filipe Martins completou que eles "poderão ser julgados pelo que
efetivamente fazem e não apenas pelo que dizem".
O rancor de Bolsonaro contra seus adversários globais poderia forçá-lo a abandonar a displicência na questão ambiental. O presidente, porém, já deixou claro que seu desejo é apenas neutralizar as pressões internacionais sobre o governo. A incompetência e a falta de vontade de agir continuam evidentes.
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