Resultado
das urnas torna ainda mais difícil a ideia de criar 'frente ampla' contra
Bolsonaro
Quem
ganhou a eleição municipal? A mera massa de números de conquistas locais de
cada partido não diz grande coisa.
Além
do mais, as reviravoltas de Junho de 2013 e a vitória de Jair Bolsonaro em 2018
deveriam incentivar alguma modéstia na especulação e dos politólogos. Mas
os resultados
das municipais já motivam rearticulações, reavaliação de
estratégias e reivindicações de poder.
O
que parece menos incerto?
Em
termos de prefeituras
conquistadas, a esquerda se tornou nanica e mais fragmentada. PT, PC do
B e PSB (esquerda rosa-chá) perderam muitas prefeituras; nesse quesito, o PSOL
ainda praticamente inexiste. O PDT se manteve mal e mal.
A
esquerda teve e pode ter outras vitórias simbólicas relevantes, abrindo uma
fresta para respirar na tumba em que está metida. Terá disputas duras em
Recife, Porto Alegre, Belém e Vitória e uma quase impossível, em São Paulo.
Ainda
assim: 1) ficou evidente que o eleitorado
de grandes cidades está disposto a caminhar no “campo
progressista”; 2) partidos como o PSOL voltaram a fazer o papel da esquerda,
que é levar o povo miúdo para o governo, como o PT já fez de modo extensivo um
dia.
Faz
década se fala em coletivos de periferias e movimentos renovados de minorias.
Essas pessoas começaram a chegar ao poder, como na Câmara de São Paulo. É
pouco, mas faz barulho e será uma inspiração.
As
derrotas da esquerda encorparam a onda cinza. Partidos de centro, sublegendas
do centrão, centro-direita e direita dominam ainda mais prefeituras. Nesse
bloco, o poder também está mais disperso com a ascensão do PSD e a ressurreição
do DEM.Diz-se que o MDB continua o partido majoritário, com mais cadeiras de
prefeito. É verdade, na aritmética.
O
partido perdeu muitas prefeituras. Nas maiores cidades, é medalha de bronze.
Trata-se aqui dos 204 municípios que abrigam metade da população brasileira.
Neles, o PSDB contou 32 vitórias (eleitos ou em primeiro lugar no primeiro
turno), seguido de PSD (28), MDB (27) e DEM (19).Somadas essas 204 cidades ao
bloco intermediário (as maiores de 20 mil habitantes), tem-se 85% da população.
Aí,
os partidos líderes em prefeituras ou vitórias parciais são quase os mesmos.
Pela ordem: MDB (244), PSD (211), PP (202), PSDB (195) e DEM (151).O sucesso do
DEM foi o grande crescimento; na política parlamentar, ora lidera o
conservadorismo tradicional.
O
sucesso do PSD é o crescimento contínuo, agora firme também nas grandes
cidades. Gilberto Kassab, líder e organizador dessa “start-up” do
centrismo-centrão, diz que o PSD pensa em lançar candidatos a presidente e que
Bolsonaro perdeu. Em suma, avisa ao governo e aos partidos com ambições para
2022 que o PSD tem de ser considerado no jogo, pois é time grande.
O
PSDB também perdeu prefeituras. Mas está forte em grandes cidades e, para
variar, no tucanistão (o estado de São Paulo, segundo a esquerda). PSDB, DEM e
MDB vinham fazia um tempo com uma conversa meio mole de serem aliados em 2022;
a depender do futuro de Bolsonaro, podem juntar também o PSD. Falta apenas ter
o que dizer ao povo e arrumar um candidato (quem tem muitos, não tem nenhum).
Mas há ainda mais incentivo para que formem um bloco distinto do centrão e com força para disputar o governo federal —se organizar direitinho, todo mundo terá um carguinho.O que ficou ainda mais difícil, dadas as derrotas da esquerda e a baixa da “polarização”, foi a ideia de criar uma frente ampla contra Bolsonaro: ele perdeu agora, mas pode, quem sabe, se beneficiar dessa divisão.
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