Projetando-se
do presente ao futuro, dominam a cena as forças moderadas
Daqui
a pouco passa. Vitoriosos (muitos) e ressentidos (poucos) terão de voltar à
vida política não eleitoral: crise econômica, desemprego, agravamento da
pandemia, fome, desigualdade. O calendário de 2022 ficará suspenso. Porém, as
marcas dos acontecimentos do momento não se apagam.
A
fotografia: o presidente Jair Bolsonaro domina
a cena do momento estático. Com derrotas em série, só se têm dele flagrantes
desarticulados. Em menos de dois anos da introdução de sua era política foi
desautorizado em pensamentos, palavras e obras. Seu mundo, lá fora, também
ruiu, o que torna ilusão tudo o que representa. Mas não convém esquecê-lo. No
comando do governo, prosseguindo no seu fazer nada, será um populista
incompetente e descompromissado com a realidade. Porém, se quiser, recupera-se.
E não tem só dois minutos, são mais dois anos inteiros. Tempo suficiente para
criar um salário emergencial para todos e transferir as suas culpas ao
Congresso, como é de costume. Não precisa de condições políticas para voltar à
roda, já deixou claro que não é piloto nem passageiro de sua própria nave.
O filme: em movimento dinâmico, projetando-se do presente ao futuro, dominam a cena as forças moderadas, os democratas da esquerda à direita que conquistaram a adesão popular na condenação aos extremos.
O
novo elenco se uniu aos que, já em ação, abriram antes a roda de conversas,
agora ampliada. Não são ainda os partidos. Estes ficarão um bom tempo
entretidos na negociação parlamentar, que comandam.
Para
o diálogo político, que produzirá o enredo dos próximos dois anos, há também
dois princípios definidos. O primeiro é que não pode haver vetos a ninguém em
qualquer um dos projetos. É o mínimo que a moderação exige.
O
segundo é fugir da definição precoce de posições. Luciano Huck, João Doria, Sérgio Moro, Luiz Henrique
Mandetta, Hamilton
Mourão, Ciro Gomes, Guilherme
Boulos são candidaturas lançadas. Alguns, como Huck, em estágio
avançado de formulação. Outros, como Moro, ainda discretos, para inibir a
besta-fera do Gabinete do Ódio e sua capacidade destrutiva.
Huck,
misto de liberal e social-democrata, foi o primeiro a se abrir a conversas com
líderes políticos nacionais e internacionais, inclusive da esquerda,
empresários, sociedade e demais candidatos potenciais. Tem uma equipe
discutindo as políticas públicas que considera necessárias ao Brasil. Ciro Gomes,
embora na roda, enfrenta o problema de ser candidato inamovível. João Doria,
para se habilitar, terá não só que vencer o segundo turno em São Paulo. Sem
isto será difícil até se reeleger governador. Mas precisa fazer uma grande
gestão e reduzir sua rejeição. As demais propostas engatinham.
O
eleitor municipal promoveu outros interlocutores políticos ao nível de
reconhecimento federal. É inegável o crescimento do presidente do DEM e
prefeito de Salvador, ACM Neto.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM),
aumentará sua cotação se Eduardo Paes se
eleger no Rio e, especialmente, se fizer seu sucessor.
Em
meio às conquistas do MDB, sobressai-se o deputado Baleia Rossi. Segurou seu
partido no centro, fugindo ao radicalismo do governo Bolsonaro, onde pontifica
o volátil e bem-sucedido Centrão.
Guilherme Boulos (PSOL) se impõe como novidade e enigma. Alternativa de interlocução para o centro, papel que cabia apenas a Marcelo Freixo, Boulos se instalou, vença ou não o segundo turno, como protagonista essencial da política. A observar se conseguirá se manter na linha da moderação. Reconhecida, também, a capacidade de negociação do político Márcio França (PSB), que oferece a alternativa de costurar alianças do centro à esquerda. A ampla presença de São Paulo, Rio e Bahia na roda da articulação tornou mais surpreendente ainda a situação de Minas: uma vitória instigante da moderação, ainda fora do esquadro político por cansaço, indiferença, decepção ou abulia.
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