O Estado de S. Paulo
Falta ao centro um melhor diagnóstico da
crise, condição para que possa avançar em propostas para sair dela.
Em geometria, centro é o ponto equidistante
da circunferência. Em política, lugar impreciso. No Brasil, ainda mais incerto.
Define-se por assinalar o que não é, antes de dizer aquilo que pretende ser. Há
pouca clareza ideológica ou definição programática. Falta-lhe um melhor
diagnóstico da crise, condição para que possa avançar em propostas para sair
dela.
Nesse clima, três candidatos a candidato à
Presidência da República estiveram presentes à primeira edição de Primárias.
Não se trata de partido, legenda formal, com dinâmica e disputas internas.
Antes, é tentativa de aglutinação de candidatos dispersos. Difícil tarefa. Daí,
talvez, o tom morno e cuidadoso do encontro.
Nas ideias descortinadas, à exceção do impreciso “programa nacional de desenvolvimento”, de Ciro Gomes, pouco se destoou das questões clássicas do discutível liberalismo à brasileira das últimas décadas: equilíbrio fiscal e reformas estruturais, propostas genéricas para o desenvolvimento. Com a inclusão, agora, do SUS – resultado óbvio da pandemia.
Equilíbrio e responsabilidade fiscal não
são fins em si. Por isso, sentiu-se falta de um diagnóstico amplo e estrutural,
global: as grandes transformações tecnológicas e econômicas, das últimas
décadas, seus desdobramentos e desafios. E, assim, discutir o papel e o desenho
do Estado, necessários para a superação da crise. Qual, afinal, a natureza da crise?
O que gerou Jair Bolsonaro?
Somente com o claro entendimento desses
problemas se pode olhar para o futuro. E, com isso, discutir o rol de reformas
e medidas necessárias no campo fiscal, na Educação, na Saúde e na inevitável
Assistência Social. Mas, a ansiedade parece ter atropelado a lógica. Tudo ainda
incipiente, afinal é uma “primária”.
Verdade que tampouco se encontra esse tipo de refinamento nos candidatos das largas margens que oprimem e deprimem o centro. Lula parece crer que os bons tempos – influenciados pelo grande choque de commodities – possam voltar por mágica. Já de Jair Bolsonaro é ocioso esperar esse tipo de lucidez.
*Cientista Político e professor do Insper
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