O Globo
O bolsonarismo montou uma máquina para
disseminar o discurso de ódio, atacar as instituições e pregar um golpe contra
a democracia. A engrenagem foi exposta em relatório da Polícia Federal. Ontem o
Supremo abriu um novo inquérito para investigar os extremistas.
Na decisão, o ministro Alexandre de Moraes
descreve a existência de uma “verdadeira organização criminosa” destinada a
implodir o estado de direito. Ele afirma que o objetivo da tropa é a “imposição
de uma ditadura”, eliminando “qualquer possibilidade de controle ou
fiscalização” do poder presidencial.
As investigações começaram em abril de
2020, quando Jair Bolsonaro participou de um comício em frente ao
Quartel-General do Exército. Os manifestantes tentaram incitar os militares a
fechar o Congresso e decretar um novo AI-5.
“Nós não queremos negociar nada”, bradou o
capitão, na caçamba de uma caminhonete. “Acabou a época da patifaria. Agora é o
povo no poder”, arrematou, diante de uma plateia que o chamava de “Mito” e
urrava contra a democracia.
O presidente não é investigado, mas seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo são citados no relatório da PF. O inquérito aberto no ano passado também mira deputados bolsonaristas e assessores do governo. Parte deles integra o “gabinete do ódio” instalado no terceiro andar do Planalto.
A polícia ainda identificou empresários que
financiam a extrema direita desde a campanha de Bolsonaro. Com a vitória do
capitão, o grupo ganhou acesso aos cofres públicos. A Secom passou a liberar
verbas para portais que divulgam notícias falsas e pregam ideias golpistas.
As investigações mostram como o
bolsonarismo se infiltrou nas instituições para sabotá-las. Deputados eleitos
pelo voto conspiram abertamente pelo fechamento do Congresso. Uma das líderes
da tropa, a deputada Bia Kicis, está no comando da principal comissão da
Câmara.
O aparelhamento também chegou aos órgãos de
investigação. Para proteger o governo, o procurador Augusto Aras menosprezou o
relatório da PF e pediu o arquivamento do caso. Moraes precisou abrir um novo
inquérito para evitar que as provas fossem parar no lixo.
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