sexta-feira, 2 de julho de 2021

Ricardo Noblat - Alexandre de Moraes e Barroso, as pedras no sapato de Bolsonaro

Blog do Noblat / Metrópoles

O presidente da República tenta criar factoides para tirar a atenção coletiva da denúncia de corrupção contra seu governo

Se pudesse, o presidente Jair Bolsonaro miraria e atiraria bem na cabecinha dos ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Ele os tem como seus principais inimigos dentro da justiça.

Alexandre, porque segundo Bolsonaro, não toma uma só decisão a seu favor, ou a favor do governo; Barroso porque torpedeia talvez a mais cara bandeira de sua campanha a presidente – a reintrodução do voto em célula. Os dois não arredam pé de suas posições.

Bolsonaro, ontem, em sua live semanal das quintas-feiras no Facebook, voltou a bater nos dois ministros, embora sem citá-los nominalmente. Sobre a resistência de Barroso ao voto impresso, Bolsonaro avançou o sinal e ameaçou:

Eu entrego a faixa presidencial para qualquer um que ganhar de mim na urna de forma limpa. Na fraude, não”.

Quem decide se numa eleição houve fraude é a justiça, não o candidato que alega que houve. Em 25 anos de votação eletrônica, nunca foi constatada fraude no Brasil. Bolsonaro diz ter provas de que não se elegeu em 2018 no primeiro turno por causa de fraude.

Cobrado pela Justiça, jamais exibiu provas. Dizer que só entregará a faixa presidencial ao seu sucessor caso se convença que não houve fraude na eleição do ano que vem, significa o quê? Que tentará dar um golpe, como Donald Trump tentou em vão?

Sempre que se vê numa enrascada, como está agora com a denúncia de compra de vacina a preço superfaturado, Bolsonaro cria factoides para mudar de assunto. Na mesma live, referindo-se a mais recente decisão de Alexandre, ele disse:

“Veio inquérito especial para os meus dois filhos hoje. O mais velho [Flávio] e o zero dois [Carlos] sobre fake news. Mas não tem problema, não. Se jogarem fora das quatro linhas da Constituição, entramos num vale tudo no Brasil”.

O ministro abriu inquérito para apurar a existência de uma “organização criminosa” de ataques contra a democracia. Há indícios, segundo a Polícia Federal, de que o clã Bolsonaro esteja envolvido – inclusive Eduardo, o Zero Três.

Bolsonaro disse mais:

“Então, esse negócio de prender esposa, irmãos, filhos é das ditaduras. Não acha o cara em casa e prende a esposa e prende os filhos. Então, se a ideia for essa, se avançarem, entro no campo minado chamado vale tudo”.

Não deixa de ser um avanço o presidente da República, defensor da tortura e do regime militar de 64, reconhecer que numa ditadura, não se podendo prender o chefe de família, prende-se a própria família. Fora isso, o mais que ele fala é sempre um atraso.

Senador Otto Alencar (PSD-BA) coleciona ameaças de morte

Governo usa todo o seu aparato de informações para atrapalhar os trabalhos da CPI da Covid-19 e intimidar seus membros

Ele não é o único dos mais ativos membros da CPI da Covid-19 a receber ameaças de morte em suas contas nas redes sociais, no seu gabinete de senador ou diretamente no seu celular. São ameaças anônimas ou enviadas com nomes falsos. Uma prática nada original.

Mas o baiano Otto Alencar (PSD) as coleciona e contabiliza. Do início da CPI até a última sexta-feira, foram 15.820 ameaças, a maioria de morte. Numa delas, o remetente diz que o senador vai acabar aparecendo morto e com a boca costurada.

Otto e vários dos seus pares estão convencidos de que “todo o aparato de inteligência do governo” está sendo usado para atrapalhar os trabalhos da CPI e intimidar seus membros. Diz Otto: “Nunca vi nada parecido desde que cheguei ao Congresso”.

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