Blog do Noblat / Metrópoles
O presidente da República tenta criar
factoides para tirar a atenção coletiva da denúncia de corrupção contra seu
governo
Se pudesse, o presidente
Jair Bolsonaro miraria e atiraria bem na cabecinha dos ministros
do Supremo Tribunal
Federal Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Ele os tem como
seus principais inimigos dentro da justiça.
Alexandre, porque segundo Bolsonaro, não
toma uma só decisão a seu favor, ou a favor do governo; Barroso porque
torpedeia talvez a mais cara bandeira de sua campanha a presidente – a
reintrodução do voto em célula. Os dois não arredam pé de suas posições.
Bolsonaro, ontem, em sua live semanal das
quintas-feiras no Facebook, voltou a bater nos dois ministros, embora sem
citá-los nominalmente. Sobre a resistência de Barroso ao voto impresso,
Bolsonaro avançou o sinal e ameaçou:
“Eu entrego a faixa presidencial para qualquer um que ganhar de mim na urna de forma limpa. Na fraude, não”.
Quem decide se numa eleição houve fraude é
a justiça, não o candidato que alega que houve. Em 25 anos de votação
eletrônica, nunca foi constatada fraude no Brasil. Bolsonaro diz ter provas de
que não se elegeu em 2018 no primeiro turno por causa de fraude.
Cobrado pela Justiça, jamais exibiu provas.
Dizer que só entregará a faixa presidencial ao seu sucessor caso se convença
que não houve fraude na eleição do ano que vem, significa o quê? Que tentará
dar um golpe, como Donald Trump tentou em vão?
Sempre que se vê numa enrascada, como está agora
com a denúncia de compra de vacina a preço superfaturado, Bolsonaro cria
factoides para mudar de assunto. Na mesma live, referindo-se a mais recente
decisão de Alexandre, ele disse:
“Veio inquérito especial para os meus dois
filhos hoje. O mais velho [Flávio] e o zero dois [Carlos] sobre fake news. Mas
não tem problema, não. Se jogarem fora das quatro linhas da Constituição,
entramos num vale tudo no Brasil”.
O ministro abriu inquérito para apurar a existência
de uma “organização criminosa” de ataques contra a democracia. Há indícios,
segundo a Polícia Federal, de que o clã Bolsonaro esteja envolvido – inclusive
Eduardo, o Zero Três.
Bolsonaro disse mais:
“Então, esse negócio de prender esposa, irmãos,
filhos é das ditaduras. Não acha o cara em casa e prende a esposa e prende os
filhos. Então, se a ideia for essa, se avançarem, entro no campo minado chamado
vale tudo”.
Não deixa de ser um avanço o presidente da
República, defensor da tortura e do regime militar de 64, reconhecer que numa
ditadura, não se podendo prender o chefe de família, prende-se a própria
família. Fora isso, o mais que ele fala é sempre um atraso.
Senador Otto Alencar (PSD-BA) coleciona
ameaças de morte
Governo usa todo o seu aparato de
informações para atrapalhar os trabalhos da CPI da Covid-19 e intimidar seus
membros
Ele não é o único dos mais ativos membros
da CPI da Covid-19 a receber ameaças de morte em suas
contas nas redes sociais, no seu gabinete de senador ou diretamente no seu
celular. São ameaças anônimas ou enviadas com nomes falsos. Uma prática nada
original.
Mas o baiano Otto Alencar (PSD) as
coleciona e contabiliza. Do início da CPI até a última sexta-feira, foram
15.820 ameaças, a maioria de morte. Numa delas, o remetente diz que o senador
vai acabar aparecendo morto e com a boca costurada.
Otto e vários dos seus pares estão convencidos de que “todo o aparato de inteligência do governo” está sendo usado para atrapalhar os trabalhos da CPI e intimidar seus membros. Diz Otto: “Nunca vi nada parecido desde que cheguei ao Congresso”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário