Folha de S. Paulo
Projeções para economia e vacinação
melhoram ainda mais, mas governo cria mais crise
Os relatórios econômicos são cada vez mais
otimistas com o futuro do PIB, do déficit
do governo, do tamanho
da dívida e até com a inflação de 2022 (vide mais a respeito adiante).
O governo de Jair Bolsonaro, por ora, não apenas continua afundado em tumulto
como faz novos inimigos.
A praça financeira está fula com a mudança
do Imposto de Renda, azeda o mercado e agora ataca abertamente a alta de
tributação. Bolsonaro, filhos e suas falanges tiveram de engolir mais uma
azeitona podre nesse empadão de crises, o novo inquérito do Supremo sobre a
organização criminosa digital golpista (que substitui o dos comícios
golpistas). O caso da vacina
com propina piora.
A reforma tributária que tira dos ricos para dar à parcela mais pobre dos remediados causa cada vez mais urticária (os poucos beneficiados ainda estão entre o quarto mais rico do país). Bolsonaro corre o risco de fazer mais inimigos na praça financeira e entre acionistas de grandes empresas, profissionais liberais ou assemelhados bem pagos, que reclamam não apenas de pagar mais impostos mas do que julgam ser um aumento da carga tributária geral. Para 80% da população, essa reforma é indiferente.
Do outro lado da meia-noite, mais um grande
banco apresentou novas projeções otimistas para a economia. O Bradesco elevou
sua estimativa de crescimento do PIB para este ano de 4,8% para 5,2%, espera
que o desemprego fique abaixo de 13% no fim do ano e que a dívida pública bruta
em relação ao PIB acabe 2021 em 82,1% (isto é, em queda).
O déficit primário vai ser menor, dizem.
Assim, abre-se a perspectiva de que um equilíbrio nas contas públicas possa
ocorrer em 2024 (descontado o pagamento de juros; desde que mantido o teto
etc.). A Selic não
passaria de 6,5% neste 2021 e aí ficaria até o fim de 2022, com
inflação na meta no ano que vem.
O Itaú está um tico mais otimista, em
geral, estimando crescimento do PIB de 5,5% neste 2021, por exemplo. Os dois
bancões estão ora mais otimistas do que a mediana do mercado.
Os motivos de crença na despiora são os
sabidos. A atividade econômica conseguiu contornar as restrições da epidemia de
modo mais eficiente do que o esperado. As commodities estão
com preço alto, embora a disparada não deva continuar, o que alivia um
tanto o peso a inflação, que também deve ser menos pressionada com o dólar
mais barato.
O avanço ora mais rápido da vacinação deve
permitir recuperação maior do setor de serviços, a indústria ainda tem estoque
para repor, as maiores economias do mundo crescem de modo veloz. Pessoas
físicas demandam crédito, a inadimplência está sob controle.
Esse cenário parece muito em termos
econômicos (e a curto prazo), embora não se saiba o que daí possa sair de
positivo em termos sociais e políticos.
Para os 50% mais pobres, em particular, o
problema é inflação da comida e falta de trabalho. Pode haver despiora aí
também, até o fim do ano, mas a revolta é grande, note-se a votação de Lula da
Silva (PT). Com alguma sobra na receita do ano que vem, pode haver um dinheiro
extra para Bolsa Família ou programa
similar, uma grande esperança do pessoal do Planalto, que está bem
assustado com o sururu.
A mesma inflação que engorda a arrecadação
do governo e aumenta mais o PIB (nominal) do que a dívida, mas PIB ou dívida
como proporção do PIB são abstrações para o povo. De mais concreto, há os escândalos
das vacinas com propina, pouco ou nenhum dinheiro no bolso dos pobres e ameaça
simultânea de tirar dos ricos, até agora os grandes amigos de Bolsonaro.
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