sexta-feira, 2 de julho de 2021

Kassab: ‘Chance de Bolsonaro ir ao segundo turno diminui a cada dia’

Ex-ministro e ex-aliado do presidente defendeu uma alternativa de terceira via para a Presidência em 2022

Por Carolina Freitas / Valor Econômico

São Paulo - Presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab discursou ontem de forma crítica ao governo Jair Bolsonaro, a quem responsabilizou por erros no combate à pandemia e por causar instabilidade no Brasil. Na opinião do ex-ministro, ex-prefeito e ex-aliado de Bolsonaro, o presidente tem chances cada vez menores de chegar ao segundo turno nas eleições de 2022.

Kassab falou em evento online promovido pela Câmara de Comércio França-Brasil. O ex-ministro reconheceu que, se as eleições fossem hoje, a disputa estaria entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas, como falta um ano e meio para o pleito, Kassab vê o presidente “perdendo musculatura” e enxerga espaço para uma terceira via.

“Eu tenho a plena convicção de que a chance do presidente Bolsonaro estar no segundo turno diminui a cada dia, por conta dos erros dele”, disse Kassab. “Vamos pegar apenas a questão da pandemia. Poderíamos pegar inúmeras outras. A conduta pessoal dele gera um afastamento do ser humano, passa a imagem de ser coração de pedra. Ele distribuiu recurso para os Estados mas nunca deu calor humano.”

O presidente do PSD citou como exemplo o episódio da semana passada em que Bolsonaro, em viagem oficial, pediu que uma menina tirasse a máscara. “É muito ruim, agride as pessoas. Não há uma família que não fique indignada”, disse Kassab.

O ex-ministro queixou-se ainda da proposta de reforma tributária enviada pelo governo ao Congresso. “Não bastasse todos os problemas que tem, o governo abriu uma nova frente de tensão com a sociedade.” Na opinião de Kassab, o projeto foi formulado sem diálogo com os setores produtivos e que traz “centenas” de itens que trarão transtorno a atividades empresariais. “Tem tudo para gerar uma insegurança muito grande, para afastar os investidores nacionais e os que vêm de fora”, disse.

Outro “perigo” à estabilidade e à democracia instaurado no país pelo presidente da República, de acordo com Kassab, é a insistência para mudar o sistema de votação eletrônico no Brasil. Bolsonaro coloca em dúvida a segurança da urna eletrônica, ainda que não haja indício de fraude em 25 anos de uso da tecnologia. Uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para instaurar o voto impresso tramita na Câmara pelo esforço de deputados bolsonaristas.

“Preocupa-nos que importantes personalidade da vida pública questionem o modelo de apuração, tentando passar a sensação de que as eleições do ano que vem serão fraudadas”, disse Kassab.

O ex-ministro afirmou que o PSD tem aspiração de lançar um candidato próprio. A preferência de Kassab é pelo nome do senador Rodrigo Pacheco, que hoje é filiado ao DEM. Ainda assim, o ex-ministro ponderou que é cedo para que a terceira via defina candidatos e que não há pressa para tanto.

Ao citar os palanques regionais que o PSD trabalha para erguer, Kassab mencionou o nome do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano vive um momento de indefinição e recebeu um convite para se filiar ao partido de Kassab e disputar o governo do Estado de São Paulo em 2022.

“A tendência é muito grande de que Alckmin saia do PSDB. Se for candidato a governador, será um forte candidato. E, se sai do PSDB, deve ser dissidente do candidato a presidente do partido. Também não se alia a Bolsonaro nem Lula. Então, vejo Alckmin em um palanque do Rodrigo Pacheco ou de outro [da terceira via]. É minha intuição política", disse o ex-ministro.

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