Às FFAA cabia respeito diante do esforço do
Senado para apurar corrupção na compra de vacinas
A maior vitória dos maus é receber apoio
dos bons. Assim, encobrem seus crimes, ao dilui-los entre todos de seu grupo,
nivelando virtude e pecado, honestidade e crime.
Quando a corrupção de alguns de um partido
é encoberta por seus correligionários, o desgaste se espalha para todos: o
corrupto deixa se ser o culpado e passa a encarnar o partido inteiro. Ao não
explicar contos bancários e malas com dinheiro de posse de alguns dos
participantes em seus governos, o PT cometeu o erro de encobrir e paga o alto
preço do desgaste: o partido inteiro acusado de corrupção por causa de alguns
aliados, nem sempre de seu partido. Porque ao encobrir e negar o visível, o
partido assumiu a responsabilidade da corrupção.
Ao negar a realidade de tortura cometida por alguns de seus membros, as FFAA cometeram erro semelhante. A maldade de alguns passou a ser imputada à própria instituição, vista como autora ou conivente. A mancha de alguns de seus membros se espalhou para a corporação, por um processo de contaminação moral. Até um jovem tenente que não havia nascido naquela época passa a ser visto, injustamente, como participante de crimes do passado.
Cinquenta anos depois, os comandantes das
três Forças Armadas repetem este erro, não mais por encobrir tortura, mas por
solidariedade com suspeitos de corrupção. O presidente da CPI, Senador Omar Aziz
foi enfático ao separar das FFAA os militares suspeitos de corrupção e
incompetência na gestão da saúde nos tempos do covid. O senador elogiou o
conjunto das FFAA, antes de denunciar a existência nela de um pedaço podre.
Insistiu que este pequeno gripo de desviados se diferencia da imensa maioria de
honestos soldados brasileiros.
Às FFAA cabia respeito diante do esforço do
Senado para apurar corrupção na compra de vacinas. Com todo respeito, poderiam
pedir rapidez na apuração dos erros e crimes e manifestar que não toleram
corrupção e que, se comprovada, os corruptos seriam expulsos, porque nelas não
há espaço para pedaço podre.
Mas, no lugar disto fizeram uma dura nota
contra o senador que preside os trabalhos de apuração dos fatos. A CPI
prestaria um péssimo serviço ao país se protegesse um suspeito de corrupção por
seu partido ou por ser militar. Seria desserviço também às FFAA, esconder
crimes ou omissões de um militar, deixando que ele continue usando a farda e
contaminando a imagem dos demais soldados.
A contaminação moral se espalha a todos que
toleram corrupção, da mesma forma os vírus se espalham contaminando a saúde dos
que não respeitam isolamento. A CPI pode ser a vacina das instituições contra o
vírus da corrupçāo por seus membros.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
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