Folha de S. Paulo
Defesa e Forças Armadas adotam método
bolsonarista de ataque político contra CPI
Surpreendente, na investida do ministro da
Defesa e dos três comandantes das Forças Armadas contra a CPI, é a adoção do
mais característico no método bolsonarista de ataque político.
O senador Omar
Aziz e, por extensão, os senadores sob sua presidência, são
postos como culpados de agressões verbais que não fizeram às Forças Armadas,
tratamentos indignos que não dirigiram a militares depoentes, e ainda atitudes
“vis e levianas” que não tiveram no intuito de desvendar a criminalidade
associada às mortes da pandemia.
Não é crível que os militares do Exército envolvidos na ação mortífera do Ministério da Saúde, e citados nas falcatruas com vacinas, sejam representativos das Forças Armadas a ponto de merecerem defesa tão desmedida do ministro e comandantes.
É, no entanto, o que a nota dá a entender.
Em particular quanto a “Pazuello, um general da ativa”, como reiterou
à repórter Tânia Monteiro (O Globo) o brigadeiro Batista Jr.,
um dos signatários da nota. Até agora não constava que estar na ativa
significasse, em comparação de dignidades, mais do que isto mesmo: estar na
ativa.
Se admissível ter dúvida absurda, oito
procuradores do Ministério Público Federal em Brasília respondem: explicitam o
que, de fato, distingue o general da ativa Eduardo Pazuello.
Do alto de suas estrelas, ele “retardou
conscientemente” a contratação de vacinas, deixando sem resposta mais de 80
ofertas de fornecimento da Pfizer.
“Nenhuma das objeções” à aceitação “se
justifica”, inclusive porque as mesmas cláusulas recusadas à Pfizer foram antes
aceitas com a AstraZeneca.
O general da ativa fez “gestão gravemente
ineficiente e dolosamente desleal (imoral e antiética)” na Saúde sob situação
crítica, diz o parecer dos procuradores em ação por improbidade.
A confusão entre a instituição Forças
Armadas e militares suspeitos, investigados ou criminosos provados (como o
tenente terrorista, perdoado e promovido Jair Bolsonaro) está na raiz de males
insuperáveis no percurso brasileiro.
A mentalidade militar não consegue perceber
sua própria natureza na sociedade e no Estado, nem o da instituição. Ou das
instituições do Estado Democrático de Direito.
Além da completa impropriedade da nota
“dura, como nós achamos que devia ser” —informa o comandante da Aeronáutica—
ficou a impressão de que seu propósito de fundo foi defender Bolsonaro.
No dia mesmo em que Omar Aziz fazia a
reflexão histórica e formalmente correta sobre militares implicados, o UOL e a
repórter Juliana Dal Piva divulgavam o relato de Andréa
Siqueira do Valle sobre a engrenagem, da qual fez parte, pela qual Jair
Bolsonaro se apropriou de dinheiro público por anos seguidos —via salários de
funcionários fantasmas.
Em referência à pandemia, o nome Bolsonaro
não se liga só à morte de centenas de milhares de brasileiros, já aparecendo
nas primeiras descobertas da CPI sobre armação de tramoias mi e
bilionárias com vacinas. E com mortes, como facilitadoras de outros
assaltos ao dinheiro público.
É a esse personagem
que uma corrente de militares se associa, integrando o governo ou
assentindo com a exploração política da instituição Forças Armadas. Enfim, como
disse o brigadeiro Batista Jr., em complemento à nota que chamou de “alerta às
instituições”, sobre a atual e demais advertências: “Homem armado não ameaça”.
Age —é isso? Age com a arma.
Muito democrático, muito civilizado. Tanto
que o entrevistado “sente”, lamenta, ser a “disputa política normal”, mas “em
tão baixo nível, em nível muito raso”. E, é preciso dizer, trata-se de um
militar articulado acima da média conhecida, com capacidade verbal e facilidade
expositiva.
Uma oportunidade
A eleição de Josué Gomes da Silva para a presidência da Fiesp significa, até onde se pode esperar, o retorno da decência e da importância a essa entidade. Experimentadas, por exemplo, ao tempo de Horácio Lafer Piva e perdidas por inteiro com Paulo Skaf —em 17 anos que falam mais do empresariado eleitor de então que desse oportunista. Uma política industrial está entre as maiores necessidades para a tentativa de salvar o Brasil, no pós-Bolsonaro.
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