Folha de S. Paulo
Precisaremos encontrar fórmulas para
produzir materiais para os quais não existem tecnologias limpas
O título do mais recente livro de Vaclav
Smil, “Numbers Don’t Lie” (números não mentem), é enganoso. É quase tão fácil
mentir com números como com palavras. Mas o autor se esforça em utilizar
números apenas para iluminar fatos e apontar tendências que nos aproximam de
verdades —e é bem-sucedido nessa tarefa.
“Numbers...” é uma coleção de 71
microensaios que tratam de quase tudo, da demografia à inovação, passando por
crise climática e dietas. Smil, muitas vezes descrito como o guru de Bill
Gates, é um mestre em destrinchar números e transformá-los em boas histórias.
Ele nos oferece desde curiosidades sem maiores consequências —quantas pessoas foram necessárias para construir a grande pirâmide de Quéops?— até verdades que estão na nossa cara, mas alguns insistem em não vê-las —vacinas são o melhor investimento público que existe, propiciando um retorno de US$ 16 para cada dólar aplicado.
Embora o autor atire para muitos lados,
alguns conjuntos de ensaios transmitem uma mensagem mais sólida. É o caso dos
artigos sobre o uso de energia. Sem negar a realidade do aquecimento
global nem a necessidade de combatê-lo, Smil mostra por que a tarefa é
difícil.
Nós nos concentramos, com razão, em
desenvolver tecnologias limpas para transportes e a geração de eletricidade
porque elas são as mais viáveis. Mas, se quisermos que o mundo inteiro
experimente os mesmos níveis de conforto dos países ricos, precisaremos
encontrar fórmulas para produzir enormes quantidades de amônia (fertilizantes),
aço, cimento e plásticos para os quais ainda não existem tecnologias
descarbonizadas.
Para Smil, precisamos ampliar a eficiência
do que já temos. Isolar melhor as casas, o que não envolve mais do que instalar
melhores caixilhos, permitiria significativa economia com aquecedores e
aparelhos de ar-condicionado. Na mesma linha, ele monta um bom caso contra o
desperdício de alimentos.
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