O Globo
Uma frase dita pelo presidente Bolsonaro
piorou muito a percepção do mercado financeiro e dos investidores nacionais e
estrangeiros sobre o Brasil. A afirmação de que ele tem três alternativas, a
prisão, a morte ou a vitória, foi vista, na explicação de um banqueiro, da
seguinte forma. “Quem entende que a derrota significa a sua morte tomará
decisões irracionais. Essa fala foi para todos os investidores, com os quais eu
converso, um marco, um ponto de inflexão”. E existem, explicou esse banqueiro,
"US$ 15 trilhões sentados no exterior com juros perto de zero. Tem que
atrair esse capital, mas ele não vem pra cá”.
O mundo da política e o da economia são bem
diferentes. Mas o reflexo de um no outro é inevitável. Nos últimos dias,
Bolsonaro conduziu uma escalada de ameaças institucionais, insinuações, truques
de linguagem e manipulação como parte da mobilização para o ato de 7 de
setembro, que ele convocou e comanda. Na política, cada palavra provoca reação,
e o barulho aumenta. Na economia, tudo é visto com mais frieza e objetividade.
Uma pergunta feita sempre é: o que isso muda de fato? Os que decidem o destino
do dinheiro entenderam que Bolsonaro, assim desesperado, achando que está entre
a morte e a vitória, não tomará decisões racionais.
— Esse marco recente mostrou que a coisa é
bem pior. Até então tinha briga, muita tensão. A frase foi um ponto de inflexão
— diz a fonte.
O que o presidente disse não foi tirado do contexto. Ele foi claro e depois repetiu o mesmo raciocínio. Em Goiânia, dia 28, falando para evangélicos para mobilizá-los a participar do evento do dia 7, Bolsonaro afirmou: “Eu tenho três alternativas para o meu futuro. Estar preso, ser morto, ou a vitória. Pode ter certeza, a primeira alternativa, ser preso, não existe.” Portanto, ele acha que tem duas opções: ser morto ou vencer.
Isso afasta investidores em geral. Ninguém
quer vir para o país ou, se for local, fazer novos investimentos se o
presidente está desesperado achando que luta pela própria vida e que a derrota
o levaria à morte. Um presidente assim caminhará cada vez mais para a
radicalização, elevando o nível de imprevisibilidades. Capital detesta o
imprevisível.
Bolsonaro está encurralado e com muito
medo. Aparecem cada vez mais denúncias sobre os crimes cometidos pelos seus
quatro filhos e por uma de suas ex-mulheres. A popularidade dele está em queda,
o que tem o efeito de derreter o apoio político. Para reverter esse quadro,
Bolsonaro decidiu sequestrar a data nacional do 7 de setembro, como se ela
fosse da sua facção.
Políticos de centro, com os quais conversei
esta semana, afirmam que o evento será grande. Bolsonaro quer dar uma
demonstração de força para o mundo político, para reverter esse clima de
desidratação, assustar adversários e intimidar o Judiciário. O presidente usou
de forma escancarada recursos públicos e a máquina pública para mobilizar
seguidores. Em cidades do interior, panfletos são distribuídos convocando para
a manifestação e caravanas estão sendo organizadas. Bolsonaro dedicou o tempo
do expediente à organização dos atos. Que fique claro: não é uma manifestação à
qual Bolsonaro comparecerá, é um ato organizado pelo presidente da República
contra a democracia.
O governo perdeu a batalha dos manifestos
empresariais. Primeiro, porque a maioria do capital — agronegócio exportador,
industrial e financeiro — deixou claro que se opõe à escalada autoritária do
presidente. Segundo, dividiu-se a área econômica do próprio governo. O
presidente da Caixa, Pedro Guimarães, foi “incendiário”, segundo eu ouvi de
duas fontes oficiais. Mentiu dizendo que o documento da Febraban seria uma
carta em favor do impeachment, tentou empurrar Bolsonaro para brigar
pessoalmente com os bancos e, por fim, criou o clima de “vale tudo” ao fazer
ameaças aos bancos. “O Pedro estava incendiário porque é candidato e tem
aspiração política”, me disse uma fonte do governo, sobre o presidente da
Caixa.
Ouvi de um integrante do governo a seguinte
avaliação: “Esta tensão não é boa para o ingrediente mais importante para a
reeleição, que é a recuperação econômica. Quanto mais politizar o setor
produtivo, quem está fora não entra, quem está dentro prefere esperar”.
Bolsonaro criou um bumerangue que atinge a economia e seu próprio projeto.
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