O Globo
O Exército cancelou a parada anual, mas o
capitão vai usar o 7 de Setembro para botar sua tropa na rua. Jair Bolsonaro
aposta tudo nas manifestações convocadas para Brasília e São Paulo. Quer
emparedar o Congresso e o Supremo, num ensaio do golpe que planeja desde os
tempos da caserna.
Na semana que passou, o presidente subiu o
tom dos ataques às instituições. Falou em guerra, fuzil, ruptura e ultimato.
“Nós não precisamos sair das quatro linhas da Constituição”, disse, na
sexta-feira. “Mas, se alguém quiser jogar fora dessas quatro linhas, nós
poderemos fazer também”, ameaçou.
Três dias antes, ele disse que chegou a
hora de “nos tornarmos independentes para valer”. “As oportunidades aparecem.
Nunca outra oportunidade para o povo brasileiro foi tão importante ou será
importante quanto esse nosso próximo 7 de Setembro”, discursou.
A claque reagiu com gritos de “eu
autorizo”. Os bolsonaristas repetem o bordão desde abril, quando o capitão
disse que esperava “o povo dar uma sinalização” para ele “tomar uma
providência”.
Bolsonaro vive seu pior momento desde a posse. O tarifaço da luz tende a ampliar seu derretimento entre os mais pobres e a classe média. A elite econômica começou a abandonar o barco. Para tentar escapar do naufrágio, o presidente apela à radicalização.
A convocação do 7 de Setembro não deixa
margens a dúvidas. As manifestações terão caráter autoritário e golpista. Vão
pregar a cassação de ministros do Supremo e a impunidade para os extremistas
que incitam uma quartelada.
O capitão nunca escondeu que era um
candidato a ditador. Não acredita na democracia e não aceita os limites
impostos pela Constituição. As marchas de terça-feira serão um ensaio para a
baderna em 2022. Que ninguém se engane: antes de perder o jogo, Bolsonaro
tentará virar o tabuleiro.
Tal pai, tal filho
O advogado Ives Gandra da Silva Martins é o
jurista de estimação do golpe. Sua leitura distorcida da Constituição, que
atribui um “Poder Moderador” às Forças Armadas, embala o sonho autoritário dos
bolsonaristas. A tese já foi desmentida até por ministros do Supremo. Mesmo
assim, continua em voga entre defensores de uma “intervenção militar” em favor
do capitão.
O ministro Ives Gandra da Silva Martins
Filho, do Tribunal Superior do Trabalho, é o juiz de estimação do golpe. Arroz
de festa em solenidades do governo, ele usa as redes sociais para ostentar
intimidade com Bolsonaro, a primeira-dama e os filhos do presidente. Em agosto,
foi ao Planalto assistir ao desfile de tanques fumegantes da Marinha. Ontem
reapareceu entre Michelle e Damares na Cpac, a conferência da extrema direita
em Brasília.
Gandra Filho também frequentou o palácio no
governo de Michel Temer, quando tentava cavar uma vaga no Supremo. Foi
preterido por Alexandre de Moraes, que hoje é o principal alvo da ira
presidencial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário