Folha de S. Paulo
Parece lícito concluir que a reação dos EUA
ao 11 de Setembro foi exagerada
Vinte anos atrás, em 11/9, a rede Al Qaeda
lançou uma série de
ataques aos EUA, que responderam declarando guerra ao terror.
Para vingar as 2.977 vítimas e prevenir novos atentados, os americanos
invadiram o Afeganistão e, depois, o Iraque, dando lugar a duas longas ocupações
que deixariam centenas de milhares de mortos. Os custos dessas duas
intervenções se contam em trilhões de dólares e pode-se argumentar que os EUA
saíram derrotados em ambas.
A guerra ao terror também introduziu novas medidas de segurança que complicaram a vida de milhões em todo o mundo, de passageiros de avião a imigrantes. Por estímulo ou exigência dos EUA, vários países ficaram mais perto de tornar-se Estados policiais, relativizando as garantias fundamentais e o direito à privacidade. A própria geopolítica dos EUA foi reorientada, o que, segundo alguns analistas, abriu caminho para Pequim converter-se na potência que hoje rivaliza com Washington.
Não são efeitos pequenos. Tudo em nome de
conter a ameaça terrorista. Mas qual o
tamanho dessa ameaça? Objetivamente, é pequena. Considerando-se
dados do período entre 1975 e 2016, que inclui o anômalo 11/9, a chance anual
de um americano morrer num ataque terrorista em solo pátrio foi de uma em 3,2
milhões. No mesmo período, a probabilidade de morrer num ataque animal foi de
uma em 1,5 milhão, com abelhas e cães liderando com folga sobre bichos de que
temos mais medo, como cobras e tubarões.
É claro, porém, que não devemos tratar
terroristas como abelhas. O terror, afinal, comporta eventos extremos, ainda
que raros. Se um Bin Laden põe as mãos num artefato nuclear ou agente
biológico, o número de mortos num ataque pode chegar à casa dos milhões,
condenando as estatísticas prévias à irrelevância. Sempre fará sentido vigiar
redes terroristas. Mesmo com esse "caveat", parece lícito concluir
que a reação dos
EUA ao 11 de Setembro foi exagerada.
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