Folha de S. Paulo
Bolsonaro vai continuar latindo aqui e ali,
porque é o que sabe fazer
O país parou com medo de um golpe no 7 de
Setembro. Sob o comando do líder ensandecido da seita e com patrocínio do
agronegócio, caminhões e
tratores reluzentes substituiriam tanques. Caminhoneiros estariam no lugar de
"um soldado e um cabo". Eis que no fim do feriado um cheiro de
impeachment exalou de redutos até então considerados seguros e o alarme tocou.
Foi a deixa para Michel Temer voltar aos holofotes com seus trejeitos de ilusionista e artifícios de golpista. Como já escrevi aqui, o golpe foi em 2016, contra Dilma Rousseff. Desdobrou-se em 2018 e agora assistimos a uma nova reacomodação de tensões entre as mesmas forças que disputam o butim desde a ruptura travestida de legalidade cinco anos atrás.
Não é a primeira vez que Temer vem em
socorro de Bolsonaro. O jornalista Octávio Guedes, do G1, bem lembrou episódio
que desonra a Câmara dos Deputados. Em 1999, Bolsonaro pregou o fechamento do
Congresso e o fuzilamento do então presidente, Fernando Henrique Cardoso.
Deveria ter tido o mandato cassado. Mas pediu desculpas pelos "excessos"
e ficou por isso mesmo. Quem era o presidente da Câmara na ocasião? Ele mesmo,
o missivista das mesóclises.
A carta de agora garante proteção a
Bolsonaro, que vai continuar latindo aqui e ali porque é o que sabe fazer. O
importante a registrar de toda a confusão dos últimos dias é que a fervura
baixou e as pequenas frestas abertas, para o que já era uma remota
possibilidade de impeachment, foram vedadas. Os articuladores do golpe de 2016
mostram que ainda têm as rédeas do processo.
A Faria Lima respira aliviada. Lira e
Pacheco tocam o jogo, em cumplicidade que aprofunda o abismo. O comando do
Congresso tornou-se parte do problema, tanto quanto o chefe do Executivo. Essa
gente deve estar achando que 600 mil brasileiros nos cemitérios são um preço
pequeno demais. O custo que Bolsonaro impõe ao país é desmesurado, e teremos
que lidar com ele por muitas gerações.
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