O Globo
Um presidente que gerenciou uma tragédia econômico- sanitária e que gera incerteza ao abrir a boca é péssimo para a economia
Esta coluna é para você que se preocupa,
antes de tudo, com os rumos da economia brasileira. Meu objetivo é convencê-lo
de que, mesmo que você só se preocupe com isso, este governo faz mal à economia
e ao ambiente de negócios brasileiros.
É o custo Bolsonaro: tudo o mais constante,
há menos crescimento, menos produção e menos produtividade com Bolsonaro no
poder. Comecemos pelo curto prazo. Em tempos extraordinários como os que
vivemos, política sanitária é política econômica.
As perdas econômicas ocorridas ano passado
são indissociáveis da crise sanitária: países com mais mortes per capita também tiveram mais
perdas inesperadas de atividade econômica. O anverso desta mesma moeda é que,
do ponto de vista puramente econômico, vacinas devem ser vistas como
investimento.
O governo Bolsonaro falhou na gestão da
crise sanitária e, por consequência, prejudicou também a economia.
No lugar de buscar alternativas para minimizar mortes e adaptar a atividade econômica a práticas seguras, com o uso de máscaras, o presidente decidiu brigar com governadores que estavam tentando fazê-lo. No lugar de priorizar a compra de vacinas, que poderiam acelerar a normalização da economia brasileira, o governo rejeitou pelo menos seis ofertas da Pfizer..
É importante notar que essas são perdas econômicas irrecuperáveis. Mesmo que os indicadores de atividade se recuperem, o PIB mede um fluxo produtivo. O valor que deixou de ser gerado por causa das trapalhadas sanitárias do governo já não será gerado. Está na conta do custo Bolsonaro.
Além disso, você já deve ter percebido como
as ações e palavras do presidente provocam incerteza. Cada vez que isso
acontece, as consequências são claras: com mais incerteza, os mercados colapsam
e o dólar dispara. Foi o que ocorreu nesta semana, após os discursos golpistas
proferidos no 7 de Setembro.
Mas os efeitos da incerteza vão além do que
é observado nos mercados financeiros. Nick Bloom, professor da London School of
Economics, estuda os efeitos econômicos da incerteza. Seu trabalho demonstra
que choques de incerteza geram diversas ineficiências.
Uma das mais importantes é que as firmas
deixam de investir e contratar quando a incerteza aumenta. Afinal, você
investiria grandes quantias sabendo que o país pode submergir numa crise
institucional num futuro próximo? Provavelmente não. Sua intuição confirma
aquilo que a evidência empírica e a teoria econômica de ponta confirmam.
E, neste governo, o que mais há é
incerteza. Esta é outra parte do custo Bolsonaro.
No longo prazo, o efeito dos ataques de
Bolsonaro às instituições e à democracia são mais difíceis de visualizar, mas
não menos reais. Há uma ampla literatura científica que explica como as
sociedades que prosperam no longo prazo são aquelas que têm democracia, Estado
de Direito e império da lei.
Por exemplo, Acemoglu, Naidu, Restrepo e
Robinson estudaram o efeito de ondas de democratização sobre o crescimento.
Eles concluem que países que transacionaram de ditaduras para democracias
tiveram aumento médio de 20% na renda per
capita em relação aos que não o fizeram.
Isso porque, na média, democracias são mais
propensas a tomar medidas que aumentam o crescimento, como investimento em
educação e reformas econômicas que beneficiam o conjunto da população.
Uma publicação de minha autoria sugere que
essa relação também existe no médio prazo. Após analisar estatisticamente a
relação entre crescimento e instituições para 119 países ao longo do tempo,
verifica-se que aqueles países com deterioração institucional têm uma queda
significativa em seu nível de renda futuro na década seguinte à deterioração.
Toda vez que o presidente coloca em dúvida
a legitimidade das nossas eleições, ameaça desrespeitar as decisões do
Judiciário e promete agir contrariamente à Constituição, ele esgarça o tecido
institucional. Nesse caso, o custo Bolsonaro vai ser colhido em alguns anos,
mas continua existindo.
Talvez você tenha dado o benefício da
dúvida a este governo. Talvez você só se preocupe com a economia. Mas, passados
quase três anos, fica claro que um presidente que gerenciou uma tragédia
econômico-sanitária, que gera incerteza quase toda vez que abre a boca e que
desde sempre trabalhou para deteriorar as instituições é péssimo para a
economia.
A solução é acabar com o custo Bolsonaro antes que Bolsonaro acabe com o Brasil. E o primeiro passo se dá amanhã, dia 12, nas ruas de todo país.
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