O Estado de S. Paulo.
Veremos contração de renda nas classes C,D e E, com o custo de alimentação, luz, gás e combustível
Nestes últimos dias, tivemos uma concentração de informações econômicas relevantes. O conjunto mostra uma franca desaceleração na atividade, uma inflação que ultrapassou os 10% e grandes incertezas decorrentes dos desarranjos nas regras fiscais – que só tendem a se elevar, dado que o Palácio do Planalto e o Centrão farão de tudo para ganhar as eleições.
Os dados do PIB do 3.º trimestre apontaram
uma contração de 0,1% sobre uma queda revisada de 0,4% no 2.º trimestre.
Indústria e comércio mostraram números francamente negativos. Mesmo os serviços
pouco cresceram em resposta ao avanço da vacinação e à queda nos casos de
covid. Quanto à inflação, além de atingir dois dígitos, é preocupante verificar
que 35% dos grupos de preços que compõem o IPCA estão subindo acima da média,
um índice de difusão raramente encontrado no pós-real.
O governo contrapõe a afirmação de que os
resultados fiscais são muito positivos, tanto no que se refere à relação
dívida/PIB quanto à redução relativa do valor dos gastos correntes. Considero
esse argumento pouco convincente. Boa parte da melhora fiscal decorre
diretamente da aceleração da inflação, que lentamente perderá força na medida
em que a carga de juros nominais cresça daqui para frente.
A situação será agravada pelos efeitos da
alta da Selic, que termina o ano em 9,25%, mas que será elevada já no próximo
Copom para 10,75%, conforme já apontou o Banco Central no seu último
comunicado. Todos esperam que o fim do ciclo atingirá algo próximo a 12%. O crédito,
certamente, ficará escasso e muito mais caro.
Ao lado da piora nas condições financeiras,
veremos a contração de renda real de muita gente nas classes C,D e E,
resultante do impacto acima da média de preços de alimentação, gás, energia
elétrica e combustível. O mercado de trabalho continuará fraco, e o consumo
interno não deverá evoluir de forma significativa.
Em linha com a imensa maioria dos
analistas, projetamos uma estagnação no crescimento do PIB no ano que vem.
O governo aponta dois vetores de expansão:
o novo Bolsa Família e os investimentos em concessões. O Bolsa Família,
certamente, será relevante no Nordeste, mas é muito pequeno para se contrapor
aos efeitos na demanda da alta dos juros. Por outro lado, os aludidos
compromissos de R$ 600 bilhões em investimento nas novas concessões só se
materializarão ao longo de vários anos. No curto prazo, seu efeito também será
limitado.
Logo, 2022 será mesmo ano de estagnação,
inflação e incertezas, especialmente as vindas da área política.
*Economista e sócio da MB Associados
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