Blog do Noblat / Metrópoles
O Presidente será dos últimos a se vacinar,
mas os brasileiros deram um exemplo ao mundo. Foi uma vitória da cultura sobre
a política
Por mais de um ano, o Presidente da
República e seus ministros, inclusive da Saúde, fizeram campanha sistemática
para desacreditar a importância da vacinação contra o Covid-19. Por preconceito
político tentaram boicotar a vacina fabricada graças à obstinação política do
Governador Dória e à competência técnica do Instituto Butantan. Por
displicência e negacionismo deixaram de comprar vacinas de outras procedências.
Plantaram falsas informações de que a vacinas provocariam doenças: homens
falariam fino, mulheres falariam grosso, pessoas morreriam por causa da vacina.
Até hoje, o Presidente da República se nega a ser vacinado, ao ponto de não ser
recebido em restaurantes em Nova York e estar impedido de ingressar em países
europeus por não dispor de passaporte vacinal.
Mas apesar do governo, o Brasil é hoje um dos países com maior índice de população vacinada. Depois de meses como campeão de mortos, hoje é um exemplo de sucesso. Apesar da demora em iniciar a vacinação, superamos outros países que voltam a ter surtos e lutam para impor a obrigatoriedade de tomar vacina.
O Presidente será dos últimos a se vacinar,
mas os brasileiros deram um exemplo ao mundo. Foi uma vitória da cultura sobre
a política.
A vitória da cultura sobre o governo vai
ocorrer também se o Supremo Federal tiver uma maioria contrária aos avanços nos
costumes. Não adiantará proibir casamento homoafetivo ou provocar outros
retrocessos, porque a cultura da tolerância que caracteriza o Brasil certamente
manterá os avanços já conseguidos. Da mesma forma, o governo já perdeu a sua
tentativa de incentivar a destruição da Amazônia: o Brasil tem hoje cultura
preservacionista. Pena que ainda não haja uma cultura educacionista. Por isto,
o atual governo destrói os poucos avanços dados nos últimos anos na educação de
base sem resistência da população. Também não temos uma cultura que defenda
nossa infra-estrutura científica e tecnológica, e o governo vem
sistematicamente asfixiando as universidades e os institutos científicos.
Além disto, a cultura brasileira aceita e
até compactua com a política no abandono da estabilidade monetária. Faz parte
da cultura brasileira considerar que o Tesouro Nacional tem recursos
ilimitados, por isto os gastos públicos não devem ter teto. Prevalece a cultura
de os governos podem gastar mais do que arrecadam: de que é possível aumentar
despesas e ao mesmo tempo reduzir impostos. Décadas de políticos populistas
aliados por economistas que não souberam adaptar as ideias de Keynes, levaram o
Brasil a aceitar inflação como uma característica nacional. Ao ponto de sermos
campeões mundiais em número de moedas.
A cultura brasileira venceu o governo e
implantou a vacina contra o covid e aliadou-se aos populistas para impedir
manter a vacina contra o vírus da inflação: o teto aos gastos públicos.
*Cristovam Buarque foi ministro, senador e
governador
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