O Estado de S. Paulo.
Este 2022 vai se desenhando como ano
eleitoral carregado de expectativas ruins para a economia, que muito
dificilmente poderão ser revertidas.
O ano que vai acabando já não deixa bom legado.
Apesar das reiteradas e pouco persuasivas declarações em contrário do ministro
Paulo Guedes, não há razões para se apostar na recuperação em “V” da atividade
econômica nos próximos 12 meses.
Os juros básicos (Selic) deverão se manter em dois dígitos ao longo do período, fator que conterá o crédito e o consumo. O próprio Banco Central não esconde que sua política monetária freará o crescimento. A produção industrial se manterá estagnada. A inflação pode fechar o ano pela metade de como começou, mas ao longo de todo o ano seguirá corroendo o poder aquisitivo do trabalhador – principalmente o de baixa renda –, que terá menos recursos para se proteger. O desemprego, hoje nos 12,6% da força de trabalho, se manterá acima dos 10%.
Os grandes bancos centrais preparam para
2022 o início do megaenxugamento dos recursos despejados no mercado ao longo da
pandemia. Ainda será preciso saber quanto a valorização das moedas fortes
(especialmente dólar e euro) afugentará os capitais para as economias em
desenvolvimento e conterá o ritmo da recuperação externa. O dólar caro
contribuirá para puxar para cima os preços dos produtos importados,
especialmente os dos combustíveis. A desorganização das contas públicas pode
derrubar ainda mais a confiança na política econômica. Diante destas e de
outras incertezas, o investimento continuará sendo insuficiente.
Apenas dois setores da economia prometem
excelente desempenho: o agronegócio, que deverá produzir safra recorde e
contará com bons preços externos; e a balança comercial, que é consequência.
Mas, como já vem acontecendo, essas duas áreas não conseguirão contrabalançar
os resultados fracos do resto da economia. Veja, na tabela, as projeções do
mercado para 2022 aferidas pela Pesquisa Focus, do Banco Central.
Decididamente, esta não é uma ficha
exuberante que o governo poderá exibir ao longo do debate eleitoral. Isso
aponta para novas tensões. O presidente Jair Bolsonaro e os políticos que o
apoiam poderão achar insuficiente o Auxílio Brasil como amortecedor do
descontentamento do eleitor de baixa renda e, por isso, serão tentados a
inventar novas despesas públicas.
A tão prometida agenda de reformas, que já
esbarrou em obstáculos políticos neste ano, tende a continuar estancada num ano
de eleições, quando as corporações deverão aumentar suas pressões para bloquear
as perdas que serão inevitáveis.
Enfim, 2022 não nos dá boas vindas na área econômica.
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