Folha de S. Paulo
Falta vacinar quatro milhões e a variante
vem aí
Em dezembro, São Paulo tem vacinado mais
pessoas com injeções de reforço do que com segundas doses.
São 183 mil doses de reforço por dia, ante 81 mil pessoas que completam sua
vacinação.
Em parte, é uma boa notícia, além de compreensível. No início deste mês, havia mais pessoas aptas a tomar o reforço (11,7 milhões) do que gente precisando tomar a dose 2 (4 milhões). Mas é preciso ressaltar que ainda é necessário vacinar esses 4 milhões de pessoas, quase todas elas jovens com menos de 20 anos. No ritmo atual, a população do estado teria sido totalmente vacinada (com segunda dose ou única) apenas em meados de janeiro. É tarde.
E daí? Olhem o tamanho da desgraça na Europa e
nos EUA; olhem a ômicron. Temos de domar essa epidemia antes que
essa praga entre no terceiro ano.
São Paulo tem a maior cobertura vacinal do
país: 91% da população com 12 anos ou mais totalmente vacinada, ante 74% no
restante do Brasil. Há estados com cobertura muito baixa: Roraima e Amapá com
50% da população completamente vacinada, Pará com 59%, Maranhão e Acre com 61%.
Mas, no momento, São Paulo tem também uma
taxa diária de mortes maior: 1,2 por milhão de habitantes, ante 0,82 por milhão
no restante do país. Uma explicação pode ser que o estado tem cidades maiores,
mais movimentação e aglomeração de gente, mais aeroportos e viagens em geral
etc. Não há dados para afirmar que a subnotificação seja maior em outros
estados.
Mais importante, para o país inteiro, é que
vai começar a temporada de viagens e aglomerações de festas e férias. Algum
vírus vai se espalhar. Entre eles, o da variante ômicron.
Não sabemos ainda quase nada sobre a ômicron.
Existe a hipótese de que cause doença menos grave, mas pode ser também que a
variante talvez seja menos nociva porque enfrente corpos já parcialmente
imunizados por vacinas e infecções prévias.
No entanto, nesta sexta-feira, um boletim
do governo do Reino Unido dizia que a ômicron se espalha rapidamente por lá e,
na semana que vem, pode ser responsável por metade das novas infecções. Se essa
variante se espalha rápido, vai chegar logo nas pessoas sem vacinação completa
e nos mais frágeis e suscetíveis em geral (mais idosos e com doença
pré-existente que os torna mais indefesos, como cardíacos e diabéticos).
A epidemia é diferente em cada país,
decerto. No Brasil, tivemos muito mais infecções do que na Europa (temos mais
proteção "natural"), estamos com uma taxa de vacinação similar à dos
grandes países, nossa vacinação é mais recente ("mais forte", por
ora), enfrentamos variantes diferentes e começamos a dar a dose de reforço (11%
já "reforçados" na média do Brasil, 16% em São Paulo). Mas ainda não
dá para medir o tamanho do risco de padecer de novas variantes.
A epidemia está causando muita desgraça na
Europa, ainda por causa da delta. Na Alemanha, o número de mortes por dia é de
9,5 por milhão de habitantes, ora mais de dez vezes o do Brasil. Nos EUA, de
4,3 por milhão. No Reino Unido e França, pouca mais de 2. Governos estão cada
vez mais propensos a exigirem vacinação, com protestos crescentes dos
recalcitrantes.
O Brasil não exige certificado de vacinação
de turistas, embora deva endurecer os critérios de entrada de visitantes de
fora, apesar de Jair Bolsonaro. O governo de São Paulo foi ao Supremo para pedir
o passaporte internacional de vacina.
Essa contenção ajuda. O principal, porém, é
vacinar muito, rápido e exigir máscaras. Todos os dias, os hospitais paulistas
internam 270 novos doentes de Covid em suas UTIs. A doença ainda mata 58
pessoas por dia em São Paulo; 200 no Brasil (6 mil por mês!).
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