O Estado de S. Paulo
Lula não pode demonstrar fraqueza, mas o tema Venezuela será pura formalidade com Trump
Quanto mais se aproxima do Brasil e de Lula,
mais Donald Trump investe contra a Venezuela e, agora, a Colômbia. O Brasil é
líder político e econômico da América Latina e, até por isso, ou principalmente
por isso, o presidente Lula não pode ignorar a gravidade dessas investidas no
encontro que terá com Trump, possivelmente no próximo domingo, na Malásia. Não
pode ignorar, mas também não deve perder o foco: a prioridade brasileira é o
Brasil.
Lula vai cumprir a formalidade de manifestar preocupação, mas sem gastar cartuchos para defender os dois países vizinhos, num encontro marcado para consolidar o processo para livrar o Brasil de sanções econômicas e políticas injustas. Posicionarse na tensão na Venezuela e na Colômbia, sim. Ameaçar o namoro com Trump e o fim das sanções, definitivamente, não.
Enquanto a Bolívia elege um presidente de
centro-direita, depois de décadas de governos de esquerda, e a Argentina, em
sua eterna crise, conquista uma linha de financiamento de US$ 20 bilhões dos
EUA, as relações entre Trump e Petro vêm se deteriorando no rastro das graves
ações dos EUA contra a Venezuela, até com ameaça de invasão por terra.
O risco não se limita a Petro e a Nicolás Maduro, mas atinge toda a América do Sul que, como Lula diz, “vive um momento de polarização e instabilidade”. Quem se agarrou à bandeira da soberania quando o ataque foi ao Brasil, em forma de tarifas, suspensão de vistos e Lei Magnitsky, não pode lavar as mãos, mas sem arranhar o interesse brasileiro.
Lula e Trump não discutirão se as tarifas
serão zero, 20 ou 50, se café, carne e suco de laranja serão excluídos do
tarifaço, que vistos para os EUA serão mantidos. Isso cabe aos escalões
ministeriais. No encontro, valem o fato político e a foto: o aperto de mãos, um
sorriso.
Uma imagem vale mais do que mil palavras. No
caso, para um ponto final nas versões de Eduardo Bolsonaro e das redes
bolsonaristas de que era uma armadilha de Trump, Marco Rubio aniquilaria
qualquer chance de dar certo, o telefonema dos dois presidentes não serviu para
nada e, até, que o encontro de Rubio e Mauro Vieira “nem aperto de mão teve”.
Teve, sim, senhores.
Soa como desespero, porque a realidade é
outra. Trump e seus assessores estão paz e amor com Lula, nunca mais citaram
Jair Bolsonaro. Daí a fingir que o Brasil não tem nada a ver com ingerência na
Venezuela e na Colômbia seria demonstrar medo ou fraqueza, algo que Lula não
pode, não deve e tem horror de fazer. Trump sabe disso e ambos sabem jogar o
jogo. O tema será abordado na Malásia, mas por pura formalidade.
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