terça-feira, 21 de outubro de 2025

O crime organizado está em todo lugar, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O tráfico de drogas é apenas a ponta mais visível do iceberg bandido

Com territórios ocupados, todas as classes sociais estão ameaçadas, inclusive as mais ricas

Desbaratado pela Polícia Federal na semana passada, o comércio ilegal de armas de fogo produzidas em escala industrial funcionava no interior de São Paulo e abastecia o Complexo do Alemão e a Rocinha. Uma evidência de que o crime organizado tem ramificações em todo o país, não é exclusividade paulista, carioca, cearense ou amazonense.

Com componentes estrangeiros e peças retiradas de equipamentos de airsoft, a fábrica tinha capacidade para montar cerca de 3.500 fuzis por ano, quantidade sete vezes maior que o número de armas do mesmo tipo apreendido pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em 2024.

O tráfico de drogas é a ponta visível do iceberg. Alguém já disse que hoje é mais fácil apontar onde o crime organizado não atua. Presente em 28 países, no Brasil o PCC está infiltrado em diversos setores da economia: postos de gasolina, agência de automóveis, empresas de construção, mercado imobiliário, casas de câmbio, fintechs, fundos de investimento e criptomoedas, empresas de ônibus do transporte público, igrejas, coleta de lixo e limpeza urbana, mineração, casas eletrônicas de apostas e de jogos de azar, clubes de futebol.

Alarmante já não basta. De acordo com pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é preciso inventar um novo adjetivo para definir a extensão do crime.

Facções e milícias ampliaram sua influência sobre o território brasileiro, alcançando a vizinhança de 19% da população. O percentual representa 28,5 milhões de pessoas vivendo em perigo, muitas morando ao lado de cemitérios clandestinos —informação que desacredita os índices oficiais de homicídio.

Todas as classes estão ameaçadas, inclusive as mais ricas. Mas nem isso faz com que deputados e senadores se movam para votar com rapidez a PEC da Segurança, cujo mérito é incluir a PF no enfrentamento das quadrilhas organizadas. Sem tirar o poder dos estados, como alegam os críticos, mais interessados em promover a retórica da força e do sangue com finalidade eleitoral.

 

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