O Estado de S. Paulo
Crédito, dívida e big techs sugerem que relevante correção nos mercados pode estar próxima
O cenário mundial em 2025 tem sido descrito
como o mais incerto e perigoso dos últimos tempos, especialmente em decorrência
das políticas do governo Trump.
Estamos entrando na última parte do ano e já
dá para antecipar que a incerteza continuará no próximo exercício. Lá fora e
aqui, creio que estão delineadas as grandes questões que comandarão 2026.
No exterior, o centro da análise é o que pode
acontecer na economia americana. Três questões emergem referentes ao desempenho
da produção e emprego, da inflação e da rolagem da dívida pública.
Hoje, vemos o PIB “dividido”. De um lado, o expressivo ganho de renda e patrimônio dos 20% mais ricos da população resulta num crescimento do consumo desse grupo, ao lado de uma enorme expansão dos investimentos em inteligência artificial.
De outro lado, há um choque de oferta no
mercado de trabalho com o duro tratamento dado aos imigrantes, uma estagnação e
alguma queda na renda do remanescente da população, o que resulta em claras
indicações de estresse financeiro e redução do consumo mais popular. A taxa de
desemprego tem aumentado consistentemente. Até que patamar reduzir os juros?
A segunda questão está ligada à persistente
elevação da inflação, que caminha para a faixa de 3-4%, decorrência do choque
tarifário. Mais uma vez: o que fazer com os juros?
Para complicar, vemos um ataque à
independência do Banco Central e uma pressão do Executivo para reduções
significativas na taxa de juros. Ora, isso claramente conflita com a
necessidade de rolagem crescente da dívida pública. Essa rolagem, por sua vez,
será feita de forma ortodoxa, com a admissão de prêmios sobre os papéis longos,
ou veremos algum tipo de repressão financeira? Esse é o ponto mais agudo a ser
enfrentado nos próximos meses.
Os mercados vêm mostrando uma evidente
incompatibilidade entre o otimismo refletido nas Bolsas e as indicações de
crescente pressão no mercado de crédito. Sobra dinheiro na praça e as
avaliações de risco vão ficando frouxas. O spread entre os juros de “junk
bonds” e o grau de investimento está hoje em 2,8%, muito menor do que os 4,5%
dos últimos 20 anos. Muitas corporações pagam juros menores que os do Tesouro.
Duas grandes insolvências desta última semana acenderam luzes amarelas.
O risco nos mercados de crédito, a pressão
para elevação de prêmios na rolagem da dívida e a forte possibilidade de um
ajuste nas frenéticas cotações nas big techs sugerem que uma correção relevante
nos mercados pode estar próxima. •
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