O Globo
Dos 22 vereadores que assinaram projeto de
transporte gratuito, só 10 não voltaram atrás
Ainda não foi desta vez. Belo Horizonte
poderia ter se tornado a primeira capital brasileira a adotar a tarifa zero nos
ônibus. A proposta mobilizou a cidade, mas naufragou na Câmara Municipal. Na
sexta-feira, foi derrotada por 30 votos a 10.
Os defensores da ideia sabiam que não seria fácil, mas saíram frustrados com a goleada da roleta sobre os passageiros. O projeto chegou ao plenário com a assinatura de 22 vereadores. Na hora da votação, mais da metade debandou.
O placar refletiu a pressão das empresas de
ônibus e das entidades patronais. O prefeito Álvaro Damião (União Brasil)
também jogou pesado. Ontem ele demitiu ao menos sete funcionários ligados a
vereadores que contrariaram a ordem de votar contra a tarifa zero.
Hoje BH tem a terceira passagem mais cara
entre as capitais: R$ 5,75. Apesar do valor, o bilhete só cobre 25% da
arrecadação do sistema. As maiores receitas vêm do subsídio da prefeitura (38%)
e do vale-transporte (37%).
O projeto apresentado pela vereadora Iza
Lourenço (PSOL) previa substituir o vale-transporte pela Taxa do Transporte
Público, a ser cobrada de empresas sediadas na cidade. As firmas com até nove
funcionários não pagariam nada. A partir do décimo empregado, contribuiriam com
R$ 185 por pessoa.
O modelo se baseou em estudo da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), que projetou impactos positivos na redução da
desigualdade e na economia local. Com a tarifa gratuita, as famílias ficariam
com mais dinheiro para consumir. Cada real investido na política teria
potencial para gerar quase R$ 4 em benefícios econômicos.
Defensores da tarifa zero também projetam
efeitos positivos no trânsito, no meio ambiente e até na saúde pública. “Tirar
carros da rua reduz os congestionamentos, a poluição e os acidentes”, resume o
urbanista Roberto Andrés, professor da UFMG.
Autor do livro “A razão dos centavos”, que
discute as manifestações de 2013, ele diz que a bandeira do passe livre “deixou
de ser utopia e se mostrou viável”. A afirmação é amparada em números
compilados pelas próprias empresas de ônibus.
Hoje 127 cidades brasileiras adotam a tarifa
zero universal, sendo 12 com população acima de cem mil habitantes. A lista é
suprapartidária. Inclui a petista Maricá (RJ) e a bolsonarista Balneário
Camboriú (SC).
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