domingo, 5 de outubro de 2025

Voltas que o mundo dá. Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Tarcísio vai de boné vermelho e o presidente Lula chega de verde e amarelo em 2026

Em 2022, Gilberto Kassab lançou o senador Rodrigo Pacheco à Presidência da República, em cerimônia transmitida ao vivo, com um único intuito: aguardar a decantação das pesquisas entre os dois candidatos óbvios, Lula e Jair Bolsonaro. Com um pé lá e outro cá, Kassab se apoiou em Pacheco para... ganhar tempo e fazer a melhor aposta.

Ratinho Jr., governador bem avaliado do Paraná, é o Pacheco de 2026. Kassab não pula em canoa furada. Vai navegando com ele, enquanto Lula é candidato único e Tarcísio se abriga à sombra, à espera de abrir o tempo e confirmar um quadro eleitoral previsível entre os dois.

É a velha esperteza de um político que, chova ou faça sol, está sempre do “lado certo”. E qual é esse lado para Kassab? O melhor para o País? De direita? De esquerda? Não. O que tenha maior chance de ganhar. Simples assim. E ele deve estar se divertindo, num ano que começou com Lula sem condições sequer de se lançar, Fernando Haddad saindo da lista de presidenciáveis e o bolsonarismo insistindo em eleger o inelegível.

Tudo mudou, graças à radicalização e à burrice política do bolsonarismo, que deram a Lula, além dos discursos dos ricos contra pobres e da soberania, a mesma sensação de 2022: dos males, o menor. Até os símbolos caíram no colo de Lula, com a imensa bandeira americana no ato bolsonarista da Paulista produzindo o inesperado: Lula está trocando o vermelho do PT pelo verde e amarelo nacional.

Em três anos, entre erros crassos na política externa, falas constrangedoras sobre tudo, falta de rumo e coordenação política, Lula não conseguiu nenhuma marca, nenhum símbolo do terceiro mandato. O Bolsonarismo lhe deu tudo isso de graça e ele chega a 2026 com a isenção do IR, aprovada por unanimidade na Câmara e, quem sabe, no Senado.

Tarcísio é o nome natural da direita, bolsonarista ou não, mas com cautela, pragmatismo e observação, exatamente o que Kassab lhe garante e que, neste momento, significa esconder o jogo. Assumir a candidatura seria atrair chuvas e trovoadas do governo, da esquerda e do próprio bolsonarismo, a começar do gênio da antipolítica, Eduardo Bolsonaro. Melhor acenar com a reeleição, trocar confidências com Jair Bolsonaro e, claro, acertar em São Paulo.

Pacheco esquentou a cadeira, mas 2022 foi óbvio, entre Lula e Bolsonaro, assim como 2026 deve ser entre Lula e Tarcísio, mas com uma novidade: Tarcísio de boné vermelho do MAGA trumpista (nunca vai se livrar dele) e Lula de boné verde e amarelo, que acaba de ganhar dos adversários. São as cambalhotas da política, ou as voltas que o mundo dá.

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