Folha de S. Paulo
Pela terceira eleição consecutiva, a de 2026
receberá valores quatro vezes maior que o razoável
Só a potência da opinião pública é capaz de
por um freio no avanço parlamentar ao Orçamento
Um fundo
eleitoral de R$ 5 bilhões somado ao quase R$ 1 bilhão da verba
reservada aos partidos, acrescido dos recursos das emendas, faz do avanço
do Congresso sobre
o Orçamento da União um saco sem fundo.
Pela terceira eleição consecutiva, se não houver alguma espécie de freio, a de 2026 receberá valores quatro vezes maiores ao que o Executivo propõe como patamar razoável para o financiamento de campanhas.
O argumento cínico é o de que a democracia
custa caro. Isso sem que os congressistas apresentem contas precisas sobre os
gastos. A nação não sabe exatamente para onde vai o dinheiro, qual a real
necessidade do montante pretendido e de que maneira se dá a distribuição.
Há critérios, em tese, mas na prática
prevalece o poder discricionário das direções partidárias, cujas decisões não
passam por escrutínio rigoroso da Justiça
Eleitoral. Eventuais irregularidades, quando, e se, interditadas, são
perdoadas por constantes anistias concedidas no Parlamento pelos interessados.
O poder dado às cúpulas conversa diretamente
com a tentativa, na PEC da
Blindagem, de conferir foro privilegiado aos presidentes de partidos ao
mesmo tempo em que os deixaria fora do alcance da Justiça, devido à exigência
de aval do Congresso para abertura de ações no Supremo Tribunal
Federal.
A indecência morreu na força da rejeição
popular. Única potência capaz de se contrapor à completa falta de cerimônia dos
congressistas com o dinheiro daqueles dos quais se dizem representantes.
O caso pede reação à altura. Talvez não para
acabar com o financiamento público, ou propor a volta das doações empresariais
sob regras e fiscalização rigorosas, mas, ao menos, para exigir justificativas
e prestação de contas transparentes e detalhadas.
Se é isso o que se reclama do uso das emendas
—que, aliás, funcionam como financiamento público paralelo, pois irrigam as
bases de seus autores mesmo fora dos períodos eleitorais— lícito impor também
regras de decoro à dinheirama destinada às campanhas.
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