A Grécia enfrenta desemprego de 25%, está em recessão há cinco anos e em
março deu calote em parte da dívida. Mas, no meio desse caos econômico, pelo menos
um indicador tem apresentado melhora nos últimos seis meses: os juros cobrados
do governo estão em forte queda; saíram de 37% em março para 14% ontem. Isso
diminui o risco de saída do país da zona do euro.
O retorno para 14% representa um alívio para os gregos, embora a taxa ainda
esteja bem acima da de outros países. O governo português, por exemplo, paga
7,3%. A Espanha, 5,2%, e a Itália, 4,4%, para títulos com vencimento em 10
anos. De qualquer forma, a trajetória tem sido de queda e isso é uma boa
notícia.
A taxa de juros cobrada dos governos é um dos principais indicadores de
solvência. Se os juros são muito altos, isso quer dizer que ninguém quer
financiar o déficit público. Há receio de calote, por isso, o preço cobrado é
maior.
Parte dessa melhora é resultado do enorme esforço feito pelos gregos nos
últimos anos para cortar gastos. Outra parte está relacionada ao programa de
recompra de títulos públicos que o governo apresentou ontem. Os papéis que
estão nas mãos de credores privados serão recomprados com desconto de até 70%.
Para isso, serão usados recursos dos fundos de socorro. De forma simplificada,
a Grécia ficará devendo menos ao mercado e mais aos seus vizinhos da zona do
euro.
- Se a operação der certo, diminui bastante o risco de saída da Grécia da
zona do euro. Os gregos ficam mais protegidos pelos outros países da região
quando a dívida sai das mãos de credores privados e passa para fundos públicos
- explicou Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o bloco pode perdoar um pedaço
da dívida que a Grécia fez com os fundos de socorro. Para isso, será preciso
que as contas gregas voltem ao azul, o que não acontecerá antes de 2014, pelas
projeções da chanceler. Ou seja, o caminho é longo.
Ao lado do abismo fiscal americano, a Europa representa uma das principais
ameaças para a economia mundial em 2013. Saber que o risco grego está em queda
é uma ótima notícia não só para os gregos, mas também para o crescimento de
nossa economia, que minguou nos últimos dois anos.
Espanha: maior dívida em 100 anos
A dívida pública da Espanha só faz crescer, enquanto a economia encolhe. No
terceiro trimestre, superou ¬ 817 bilhões, o que equivale a 77,4% do PIB, o nível
mais alto em 100 anos. E os números ainda vão piorar: estimada em ¬ 41 bilhões,
a ajuda da Europa trará alívio a alguns bancos espanhóis, mas o efeito
colateral será mais aumento de dívida para o governo.
Quem puxará o PIB?
Imagine que o PIB é uma carruagem puxada por sete cavalos. Três deles são a
indústria, os serviços e a agropecuária. Outros quatro são os consumidores, o
governo, os investimentos e o comércio com o exterior. Adaptando o exemplo para
a economia brasileira, a indústria passa por um momento complicado, e os
investimentos estão em queda. Os dois estão fora de forma. Já o governo gastou
demais, e os consumidores fizerem muitas dívidas. Dão a impressão de cansaço.
Como os países ricos estão em crise, o comércio com o exterior perdeu o ritmo.
Difícil que ele aguente o tranco. Só restam, então, para puxar o nosso PIB, a
agropecuária e o setor de serviços, incluindo aí o comércio. Parece pouco
provável que o andar da carruagem seja forte apenas com esses dois. Ontem, o
Boletim Focus reduziu para 1,27% a estimativa de crescimento deste ano e para
3,7% a do ano que vem.
Fonte: O Globo
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