Superstição ou experiência pessoal, criou-se a lenda do inferno astral,
período que antecede ao aniversário de cada um, trazendo aborrecimentos e
desafios que nem sempre podem ser superados. O governo está atravessando alguma
fase parecida com esse inferno, por conta do primeiro ano de sua instalação, em
que os astros não estão lá em cima, mas aqui mesmo, às voltas com a Justiça e a
polícia.
As sucessivas crises -ou escândalos- deixaram de pertencer ao noticiário
político e ocuparam os espaços reservados aos traficantes e aos crimes comuns.
O processo do mensalão, com o codinome de "ação penal 470", ainda nem
acabou e o barco oficial ameaça encalhar num porto nada seguro apesar do nome
que lhe deram: "Porto Seguro". Somando-se à Operação Monte Carlo, à
Satiagraha e a outras, pode-se concluir que o inferno, como a Casa do Pai, tem
muitas moradas.
Complicando a situação, temos a realidade de nosso crescimento. As
autoridades que tomam conta das burras oficiais nem chamam de PIB, mas de
Pibinho, numa faixa bem inferior às estimativas prometidas.
Seria cômodo atribuir todos os abrolhos a dona Dilma, que não se sabe se é
presidente ou presidenta do país. De qualquer forma, é ela que, de uma forma ou
de outra, tem o domínio dos fatos, apesar da dicotomia criada pela problemática
herança de seu antecessor.
Os entendidos garantem que a democracia está "consolidada" entre
nós, e é bom que esteja, afastando as nuvens sombrias de uma ameaça às
instituições.
Sempre senti um arrepio ao enfrentar a estrofe camoniana do gigante
Adamastor. O poeta estava na "cortadora proa vigiando", quando
"uma nuvem que os ares escurece sobre nossas cabeças aparece, tão temerosa
vinha e carregada, que pôs nos corações um grande medo".
Fonte: Folha de S. Paulo
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