Bruno Peres e Vandson Lima
BRASÍLIA e SÃO PAULO - O presidente
interino da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, Américo
Lacombe, deixou ontem em aberto a possibilidade de requisitar informações ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em função das investigações que
apontam um esquema de tráfico de influência comandado pela ex-chefe de gabinete
do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, por ele
nomeada para o cargo.
"Isso vamos ver depois, porque por enquanto nós temos que ir devagar,
degrau por degrau", disse Lacombe, após anunciar que a comissão vai
intimar José Weber Holanda, Rosemary e os irmãos Rubens Vieira e Paulo Vieira,
investigados pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal (PF).
"Primeiro vamos ouvir esses cidadãos, o que eles têm a dizer".
Questionado sobre a necessidade de o ex-presidente prestar esclarecimentos,
Lacombe disse que Lula deverá se manifestar publicamente "se quiser".
Em seu entendimento, o "problema" envolvendo Lula é
"pessoal" e "íntimo", em referência à ligação entre o
ex-presidente e Rosemary, que ocupou o cargo de assessora especial da
Presidência e, posteriormente, de chefe de gabinete do escritório regional da
Presidência em São Paulo.
No dia 23, a Polícia Federal indiciou Rosemary Noronha, o então número dois
da Advocacia-Geral da União (AGU), José Weber de Holanda e os ex-diretores da
Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira e da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) Rubens Vieira. O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís
Inácio Adams, também poderá ser requisitado a prestar informações "em um
segundo momento". "Até agora não vejo nada contra o advogado-geral da
União, nada de sério", completou Lacombe.
O envolvimento de filiados ao PT no suposto esquema de favorecimento de
empresas junto a órgãos federais, para pelo menos para dois integrantes do alto
escalão da sigla - o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o ministro da
Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho - não atinge o partido e tampouco o
governo. "São exceções que têm ocorrido no PT que não envolvem nossa
estrutura partidária", disse Falcão. "Lamentamos que alguém que
estava num posto de representação federal possa ter cometido os fatos revelados.
O PT não compactua com isso", continuou. A imagem do ex-presidente Lula,
acredita o petista, não será arranhada pelo escândalo. "A imagem do
presidente Lula está muito associada às transformações ocorridas nos últimos
dez anos no país".
Falcão garantiu que, caso sejam comprovadas as denúncias contra os
correligionários, o partido adotará medidas previstas no estatuto e no código
de ética da sigla. "No momento propício, o PT, se houver comprovação das
acusações, tem todo um estatuto para analisar as medidas disciplinares que
eventualmente possa caber. Sempre cumprindo todos os requisitos e com o amplo
direito a defesa".
Para Gilberto Carvalho, a operação mostra uma autonomia alcançada por órgãos
de fiscalização e controle somente no governo do PT. "A Polícia Federal,
que é hoje cantada em prosa e verso pela sua independência, só passou a ser
independente sob o governo do presidente Lula e agora da presidenta Dilma,
cortando na carne quando necessário. Nos governos Fernando Henrique não havia
autonomia. Agora há", disse o ministro. Carvalho avalia que "não é
real" a "impressão de que há mais corrupção" atualmente. "O
que há mais agora é que as coisas não estão mais embaixo do tapete",
afirmou, antes de participar de um debate sobre democracia na América Latina.
(Com agências noticiosas)
Fonte: Valor Econômico
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