Em menos de uma semana, os dois principais candidatos a suceder Dilma Rousseff
no Palácio do Planalto recepcionaram, em Brasília, os prefeitos eleitos por
seus partidos nas eleições municipais de outubro.
A recepção do PSDB, em almoço realizado ontem na capital, funcionou como
pré-lançamento da candidatura do senador Aécio Neves (MG) e resgate de uma
agenda com base no que foram os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso.
O encontro do PSB, um seminário para os prefeitos eleitos realizado na
última sexta-feira, exibiu o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que é
aliado do Planalto, com discurso num tom de oposição ao governo mais duro que o
de Aécio.
Um novo pacto federativo é avanço mas não é tudo
A julgar pelo que fala a nova geração de presidenciáveis - noves fora Marina
Silva -, o maior problema do país hoje é o desequilíbrio federativo. Aécio fala
em "repactuar a federação"; Eduardo Campos, em um "novo
federalismo".
Os dois usam expressões diferentes mas falam da mesma coisa: o centralismo
fiscal da União empobrece Estados e municípios a cada vez que o governo federal
resolve desonerar algum setor de impostos que compõem os fundos de
participação.
É provável que os dois tenham razão. Há um certo consenso de que existe
efetivamente um desequilíbrio federativo. A guerra fiscal é uma prova disso.
Mas não deixa de ser discurso de governador às voltas com a folha de pagamento
do funcionalismo.
Faltou a Eduardo Campos e Aécio Neves "pensar estrategicamente" o
país. Essa, aliás, é a tese do ex-presidente FHC, ovacionado, ao falar ontem,
pelos quase 400 prefeitos que atenderam ao chamado do PSDB para o almoço dos
eleitos.
Aécio prega a "refundação da federação", pois julga que o Brasil
está se tornando um Estado "unitário". Segundo o tucano, "a cada
ano concentra mais (a arrecadação nas mãos da União)". Ele não se opõe às
desonerações, mas acha que elas devem ser feitas pela União da sua parte do
bolo. O que ela faz agora é "bondade com chapéu alheio".
Campos, presidente nacional do PSB e aliado do governo, é mais direto: se o
governo desonera, tem de compensar os Estados e municípios mais pobres, como os
do Norte e Nordeste. A desoneração também não deve ser para apenas um ou outro
segmento. O importante seria fazer desonerações que tenham o mesmo impacto no
ABC paulista e num município de 10 mil habitantes do Norte ou Nordeste.
Dos dois, foi um ex-presidente de 81 anos, FHC, quem fez o discurso mais
agudo e abrangente entre o que faz o governo e quer o PSDB. Segundo Fernando
Henrique, o governo do PT parte de uma concepção equivocada: o partido ganha o
governo, sua vanguarda ocupa os espaços de poder para mudar a sociedade.
"Isso é ideologia", disse aos tucanos, e é nessa armadilha que o
governo Dilma teria se enredado e por isso deixado de fazer o que deveria, por
exemplo, na área de infraestrutura. "Despreparo e arrogância" levaram
aos erros cometidos na MP do setor elétrico - disse. O governo faz concessões
"mas tem vergonha de dizer que faz". E o "PAC é o orçamento com
propaganda".
FHC falou dos avanços de 20 anos atrás, como a criação do SUS, a universalidade
do ensino, "mas tudo o que foi feito foi muito pouco, inclusive por
nós", disse. Houve, de fato, mobilidade social. "Mas vai perguntar ao
povo se ele está satisfeito"? Ele certamente vai reclamar da falta de
qualidade na administração em geral - ele mesmo respondeu. Num mundo que se
transformou nesses 20 anos, o PSDB precisa - segundo FHC - de conectividade com
o povo.
FHC não tem dúvidas de que, pelo lado do PSDB, Aécio pode e deve liderar
esse processo. O senador mineiro foi praticamente ungido candidato do PSDB por
FHC, pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), e pelo presidente do
Instituto Teotônio Vilela, vinculada ao partido, ex-senador Tasso Jereissati
(CE).
No encontro do PSB, apenas um militante não identificado saiu do script e
gritou, a pleno pulmões - "Presidente!"-, quando Eduardo Campos
terminou sua fala. Mas era evidente que o ar estava impregnado do sentimento de
que o PSB deve ter candidato próprio. Já. Eduardo Campos foi aplaudido nove
vezes, cometeu atos falhos como dizer que o PSB sabe o que quer e aonde quer
chegar, "ajudar Dilma a ganhar 2013" e perpetrou frases como
"tem que ter a capacidade de sonhar, interpretar os sonhos e de correr
atrás".
De acordo com Sérgio Guerra, o senador mineiro (Aécio Neves) conta hoje com
99% do PSDB para se tornar o candidato do partido. O candidato a presidente em
2002 e 2010, José Serra, não foi ao almoço. Mas não era esperado. Surpreendeu a
ausência do governador Geraldo Alckmin (SP).
Talvez fatos como esses expliquem a cautela de Aécio. Ele não assume a
candidatura, ao mesmo tempo em que afirma que percorrerá o país, em 2013,
levando a mensagem do PSDB. "O importante na política não é a largada nem
a chegada, é a caminhada", disse, numa citação mal-ajambrada de Guimarães
Rosa. Com isso, deixa implícito que também deve concordar em asssumir a
presidência do PSDB, em eleição prevista para o mês de maio. Para Aécio, a
definição do candidato deve ser no "amanhecer de 2014".
O senador precisa também achar um candidato para o governo de Minas, o que
seria mais fácil se tivesse sido mantida a aliança PSDB-PT em Belo Horizonte.
Mas os tucanos mineiros acreditam que, candidato a presidente, Aécio elege
qualquer "poste" governador.
A situação de Eduardo Campos é bem mais complicada, à medida que é aliado do
governo e tem reiterado apoio à reeleição de Dilma em 2014. A esmagadora
maioria do PSB é a favor da candidatura já. Mas gente como o vice-presidente
Roberto Amaral prefere esperar 2018. Entre uma e outra costura política, o que
se espera dos dois candidatos é uma agenda mais abrangente e clara sobre o que
eles exatamente querem dizer ao falar de uma nova federação. A solução das
demandas fiscais seria um avanço, mas não seria tudo.
Fonte: Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário